sexta-feira, 16 de maio de 2014

Bradley & Hubbard Manufacturing Company e a sua presença em Portugal através da Colonial Oil Company



Nas anteriores publicações, muito entusiasticamente, publicou-se um candeeiro de tecto da Bradley & Hubbard Manufacturing Company com um excelente Rayo burner, o que veio atrasar publicações pendentes, nomeadamente a questão do Movimento Arte Nova em Portugal e dois exemplares de Kosmos brenners 14”. Mas obstante este facto fica para o deleite do leitor este magnífico exemplar e um pouco da história americana e portuguesa.

O aparecimento em larga escala, através da publicidade da época, de candeeiros e caloríferos a petróleo deve-se ao empreendedorismo da Colonial Oil Company, mais tarde Vacuum Oil Campany e por fim Mobil. A companhia surge no mercado português em Lisboa e em 1905 lança vários anúncios publicitários de venda de gasolina, candeeiros e caloríferos a petróleo. O entusiasmo da Casa Real, nomeadamente do Infante Dom Afonso e seu irmão o Rei Dom Carlos I, pelos automóveis influenciou a nobreza e alta burguesia na aquisição desse tipo de viaturas. A Colonial Oil Company instala-se assim com os seus armazéns na Doca de Santo Amaro, em Lisboa.



Infante Dom Afonso no seu automóvel numa corrida, a 10 de Julho de 1910, da Ponte Nova à Cruz das Oliveiras. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.



Infante Dom Afonso com o seu ajudante de campo, na mesma corrida em 1910. Fotografias da autoria de Joshua Benoliel.



Infante Dom Afonso em companhia de J. Lima (à direita) e o presidente do Real Automóvel Club (à esquerda) assistindo à referida corrida. Fotógrafo não identificado.



Rei Dom Carlos I à saída das instalações do Jornal O Século. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.



Rainha Dona Amélia em local e data desconhecidos, entrando para um automóvel. Fotografia de Alberto Carlos Lima.

Todas estas ilustrações estão disponíveis no site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



As instalações na Doca de Santo Amaro ficavam precisamente onde hoje assenta na margem do Rio Tejo a Ponte 25 de Abril, tendo sido demolidos para a sua construção.
Na tese de mestrado que desenvolvi em 2011 foquei precisamente um dos edifícios de armazenamento dessa companhia. O edifício era um armazém construído para a firma Fonseca & Araújo, segundo projecto do notável arquitecto Miguel Ventura Terra. Este projecto, na obra publicada pela Assembleia da República em 2009 sobre o arquitecto, a sua localização é desconhecida. Então como descobri eu a sua exacta localização para o trabalho que desenvolvi?
O projeto para os armazéns foram publicados na revista A Construcção Moderna n-º 181, datada de 20 de Outubro de 1905. No artigo cometem um erro e atribuem a sua localização no Poço do Bispo. No número a seguir, datado de 1 de Novembro do mesmo ano, numa pequena nota intitulada Rectificação dizem que o edifício passou pouco depois para a Colonial Oil Company e que é situado na Doca de Santo Amaro.
Outro factor importante foi a comparação das plantas publicadas em 1905 com a planta geral, de 1904 a 1911, de Lisboa. Infelizmente não foram identificadas fotografias do edifício em arquivo, mas dos tanques para o petróleo existem.



Projeto publicado na revista A Construcção Moderna do arquitecto Miguel Ventura Terra.



Planta das instalações da Colonial Oil Company na Doca de Santo Amaro. O edifício projectado pelo arquitecto Miguel Ventura Terra situa-se no meio dos três edifícios a preto, virado para o rio. As plantas são a união de duas, a 6C e 7C, datadas respectivamente de Maio e Novembro de 1909.

As plantas de Lisboa estão igualmente disponíveis no site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



As construções metálicas, nomeadamente os tanques para o petróleo ficaram a cargo da famosa firma Cardoso, Dargent & Companhia, como este anúncio publicitário, datado de 1905, publicado no Annuario dos Architectos desse mesmo ano o afirma.

O original encontra-se no site Hemeroteca Digital, neste link:


Sobre o projecto de Miguel Ventura Terra, além de mais informação sobre outros arquitectos, artistas e firmas mencionadas, encontrará na minha tese de mestrado, realizada e defendida em Novembro de 2011 na Universidade Lusíada de Lisboa, com o nome Álvaro Augusto Machado e o Movimento Arte Nova em Portugal.



A Colonial Oil Company adquire assim um papel de relevo na sociedade portuguesa. Tem as instalações à beira rio, na Doca de Santo Amaro, mas instala-se principescamente no Palácio Foz, na Praça dos Restauradores em Lisboa, e na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto. Faz-se anunciar por anúncios publicitários nas conceituadas revistas portuguesas, na altura em circulação.



Mappa de Portugal para o automobilismo datado de 1905, publicado pela Colonial Oil Company. O candeeiro do lado direito, com abat-jour de vidro, é sem dúvida um artigo produzido pela Bradley & Hubbard Manufacturing Company, com o respectivo queimador Rayo.

Encontrará a imagem original no seguinte link:




O mesmo candeeiro de mesa noutro anúncio publicitário da Colonial Oil Company, igualmente datado de 1905.

O anúncio foi publicado na revista Serões, n.º 1 datada de Julho de 1905, eis o seguinte link:




O mesmo modelo de candeeiro publicitado pela Standard Oil Company nos Estados Unidos da América. O sobrescrito está datado de 1917, o que prova o sucesso comercial deste candeeiro, o qual ainda estava em produção em 1940.

Imagem extraída do seguinte link:


O queimador Rayo torna-se num sucesso comercial de vendas, a partir de 1894, neste tipo popular de candeeiros de mesa. Nos Estados Unidos da América dizia-se que na compra de 56.7 litros (15 gallons) de petróleo da Standard Oil Company ofereciam o candeeiro desse anúncio. Nos anúncios publicados em Portugal nesta altura surgem variados tipos de candeeiro, uns mais populares e outros sofisticados, mas havia também elegantes candeeiros para casas de campo e praia à venda no Palácio Foz.
O estabelecimento comercial no Palácio dos Marqueses da Foz não é por mero acaso, visto se ter instalado a partir de 1901 a Embaixada dos Estados Unidos da América.



Anúncio publicitário à Colonial Oil Company numa das varandas do andar nobre do Palácio Foz. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.

Ilustração retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.

O Palácio Foz vê assim o seu interior ocupado por variados estabelecimentos comerciais, mas são os faustosos bailes e festas promovidos pelo então embaixador americano Mister Charles Page Bryan que causam furor em Lisboa.



Fotografia de Charles Page Bryan, na capa da revista Illustração Portugueza n.º 159, datada de 8 de Março de 1909.

Imagem retirada do seguinte link:


O palácio vê assim o andar nobre habitado por este ilustre americano, descendente de famílias irlandesas e natural de Chicago. A sua estadia em Portugal, com sua irmã, fez com que se apaixonasse pela nossa língua e cultura. Na reportagem de 1909 diz-se que tinha aprendido um pouco o português, assim como colecionava prata antiga portuguesa e tinha o maior apreço pelos artistas nacionais. A sua estadia no Palácio Foz contribuiu para a preservação do seu magnífico e original interior, onde artistas nacionais e estrangeiros realizaram algumas das suas criações.



Sala de festas Louis XV, da autoria do célebre entalhador Leandro Braga. No topo o retrato de Miss Bryan, irmã do embaixador.

Imagem e texto retirados do seguinte link:




Corpo diplomático da Embaixada dos Estados Unidos da América em 1909. No topo temos Mr. Martin, secretário particular, Mr. Lorillard, 1º secretário da legação americana e Mr. Robbins, secretário particular. Na imagem central temos o Ministro da América no seu gabinete de trabalho e em baixo Mr. Louis Aymé, cônsul dos Estados Unidos da América em Lisboa.

Imagem e texto retirados do seguinte link:


Espero ter contribuído para a história da evolução da iluminação em Portugal, através do extraordinário desenvolvimento e inovação que Portugal teve nesta época.



Na próxima publicação iremos abordar mais detalhadamente a grande firma americana Bradley & Hubbard Manufacturing Company.

Sem comentários:

Enviar um comentário