domingo, 27 de julho de 2014

José de Oliveira & Barros, Lisboa



Na publicação de 16 de Maio, do corrente ano, focou-se na presença da Colonial OIl Company em Portugal, através da comercialização de gasolina, petróleo e candeeiros para este último combustível, como o caro leitor certamente se recordará. Neste estudo identificamos este estabelecimento comercial, mas a presença de várias chaminés marcadas com um rosto, morada e o nome da firma, portuguesa e de Lisboa, fixou-se-me na memória. Esta recordação é avivada cada vez que encontro chaminés ou candeeiros em feiras, lojas de antiguidades e velharias. Decidi farejar e localizar este grande estabelecimento comercial português, infelizmente pouco conhecido para a grande maioria.
O nome de tão prestigiada firma era José d`Oliveira & Barros – Candieiros e Canalisações, ficava no edifício de gaveto do Largo de São Domingos para a Travessa de São Domingos (actual Rua Barros Queirós). O edifício arquitectonicamente é do tipo pombalino e fica mesmo ao lado da Igreja de São Domingos, ocupava os cinco pisos mas a firma parece já não existir.
Os anúncios publicitários na fachada denunciam uma vasta oferta para iluminação, assim como canalizações para gás, água e acetilene. Não só se dedicava à luminária como a variados artigos domésticos, agrícolas e construtivos, tais como: tubos de borracha, lona, ferro, latão e chumbo; moinhos com sistema aeromotor; bombas; esquentador a gás; bidets; retretes e autoclismos; lavatórios; tinas; urinóis; lava-louças, entre muitos outros artigos.




Largo de São Domingos em 1910. A planta é a 11G, datada de Junho desse mesmo ano.

A planta de Lisboa estão disponível no site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.




Largo de São Domingos no início do século XX, o estabelecimento José d`Oliveira & Barros destaca-se dos circundantes pelos eficazes anúncios publicitários. Fotografia da autoria de Alberto Carlos Lima.

Ilustração retirada igualmente do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



A especialidade parece ser a luminária, com uma diversa escolha de candeeiros e lustres a petróleo, gás e acetilene, velas e serpentinas. Os complementes para estes artigos domésticos, essenciais e em grande demanda na viragem do século pelas constantes inovações dos queimadores, são na sua maioria em vidro. Dividem-se nas seguintes categorias:

- chaminés em vidro ou cristal;

- globos;

- abat-jours;

- tulipas;

- bobèches.

 São estes na sua maioria os artigos indispensáveis para o funcionamento da iluminação, além da finalidade práctica e decorativa.




Fachada principal da casa comercial José d`Oliveira & Barros no início do século XX. Fotografia da autoria de Alberto Carlos Lima.

Ilustração retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



A sua presença em Lisboa pode ter sido determinante na variedade de candeeiros que surgem nas lojas de antiguidades e velharias, leiloeiras e interiores domésticos da época. Este facto é comprovado pelo grande anúncio publicitário de gaveto entre as duas fachadas.




Ampliação da fotografia anterior, onde se podem ver representados vários artigos comercializados pela firma, que são: moinho de vento; autoclismo; esquentador; banheira; candeeiro de mesa; candeeiro de pé alto e candeeiro para secretária.

Estes candeeiros são bastantes curiosos, vamos então analisá-los mais detalhadamente:

- o candeeiro de mesa (lado esquerdo) é tipicamente de fabrico alemão, provavelmente em liga de estanho e antimónio ou bronze;

- o candeeiro de pé alto (ao centro) tem o seu característico fin de siécle abat-jour em seda ou tecido;

- o candeeiro para secretária (lado direito) é o que vulgarmente em inglês se chama de student lamp ou vesta lamp (por causa da forma do abat-jour). Serviam para ler e eram usados nas secretárias, ou em qualquer outro espaço para o estudo e concentração. Este tipo de candeeiros foram sendo aperfeiçoados ao longo do século XIX pelo uso de diferentes tipos de queimadores, inicialmente a óleo vegetal e depois a petróleo. A manufactura alemã Wild & Wessel de Berlim fabricou lindíssimos exemplares, ricamente decorados. O seu design simples e sofisticado ainda é fabricados nos dias de hoje, apesar de serem já eléctricos. No mercado surgem muitos destes candeeiros, mas os processos dúbios de electrificação geralmente eliminam marcas e sistemas, por isso é extremamente difícil assegurar a sua autenticidade. Nos últimos anos surgiram candeeiros deste género, relativamente recentes e que são anunciados como sendo muito antigos, atingindo valores monetários irracionais.



Procure verificar as marcas existentes, mecanismos, peças do queimador, para não se deixar enganar por comerciantes astutos e sem escrúpulos. Outro facto recente que ocorreu, numa antiga e conceituada leiloeira de Lisboa, foi anunciar um candeeiro baseado nos de petróleo, que sempre foi de origem a electricidade, como sendo a petróleo e oitocentista. O gosto estético, extremamente duvidoso deste exemplar, fá-lo situar na década de sessenta e setenta do século XX e obstante este facto foi licitado por um valor exorbitante. Tenha cuidado com os artigos que surgem no mercado nacional, o qual não está bem informado, nem se preocupa com isso.
Mas as situações caricatas não se resumem às descritas, há mais informação completamente errada anunciada por instituições culturais do Estado, que um dia irei explorar mais detalhadamente.



Divergimos um pouco no nosso assunto de hoje, mas é sempre bom lembrar os perigos que o colecionador enfrenta em Portugal.
O estabelecimento José d`Oliveira & Barros deve ter encerrado no decorrer do século XX, infelizmente perdeu-se uma parte substancial do seu espólio para o estudo da iluminação em Portugal. A data da sua fundação parece ser 1870, segundo a fonte citada neste blog:





Largo de São Domingos. antes de 1932. durante a recriação de uma feira seiscentista. A fachada já não apresenta o seu aspecto agressivo de anúncios, cingindo-se a um só que diz: Candieiros. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.

Ilustração novamente retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



Na próxima publicação irei apresentar vários interiores domésticos, essencialmente de Lisboa, de 1900 a 1914 com vários exemplares de iluminação.

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