segunda-feira, 21 de julho de 2014

O design dos queimadores e os revivalismos arquitectónicos



No outro dia ao polirmos os queimadores, não podemos deixar de reparar nas diferentes estilizações das perfurações. As entradas de ar variam no recorte, assim como as grelhas de apoio às chaminés.

As perfurações são ricamente desenhadas com motivos apelativos e eclécticos. Esta inspiração terá vindo em concordância com a arquitectura e artes decorativas.

Os estilos eclécticos surgem em finais do século XVIII, numa época em que a arquitectura de inspiração greco-romana dominava, e gradualmente surge pela Europa.




Strawberry Hill House em Twickenham, construção iniciada em 1749 segundo desenho do proprietário Horatio Walpole, 4º Conde de Orford.

Ilustração retirada do seguinte link:




Os eclectismos, ou revivalismos, inspiram-se nos desenhos arquitectónicos de séculos anteriores e vão ter um papel preponderante em cada país. A sua influência estende-se à arquitectura, cerâmica, tecidos e outros objectos.
O neo-gótico teve um papel determinante em países como o Reino Unido e a Alemanha, entre outros. Em Portugal há poucos exemplares e encontram-se espalhados pelo continente e ilhas.




Mosaicos hidráulicos segundo desenho de Augustus Welby Pugin, por volta de 1850, fabricados pela famosa manufactura MINTON & C.º (em cima).
Prato raso, da mesma manufactura, desenhado por Pugin e padrão Gothic 8655 e datado de 1850 (em baixo).

Ilustrações retirada dos seguintes links:






Schloss Babelsberg em Potsdam, construção iniciada em 1833 e onde participaram os arquitectos Karl Friedrich Schinkel, Ludwig Persius e Johann Heinrich Strack. Na Alemanha o neo-gótico teve um papel importante, nomeadamente no trabalho desenvolvido pelo grande arquitecto Karl Friedrich Schinkel.

Ilustração retirada do seguinte link:





O interior acompanha o desenho arquitectónico, como neste alçado datado de 1834 da autoria de Karl Friedrich Schinkel, para a sala de jantar no Schloss Babelsberg.

Ilustração retirada do seguinte link:





Friedrichswerdersche Kirche em Berlim. Esta construção, cujo projecto é da autoria de Karl Friedrich Schinkel, começou a ser construída em 1824 a 1831 e foi a primeira igreja neo-gótica da cidade.

Ilustração retirada de:




Em Portugal os eclectismos tiveram um papel de destaque na classe dirigente, a qual mandou construir as suas residências nos principais núcleos urbanos e zonas de veraneio.




Palacete Ernest Laurent Empis, projecto do arquitecto António do Couto de Abreu datado de 1906 e demolido em 1954. O edifício teve o Prémio Valmor de 1907. Fotografia da autoria de Paulo Guedes.

Ilustração retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.




Chalet João Martins de Barros em São João do Estoril, projecto do arquitecto italiano Cesare Ianz. O edifício ficou concluído em 1895 e foi inspirado nos castelos italianos medievais. Fotografia da autoria de Garcia Nunes.

Ilustração retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



O neo-árabe teve um papel mais preponderante em Portugal e Espanha, entre outros, devido à herança cultural de séculos anteriores.




Palacete Ribeiro da Cunha, em Lisboa, no Príncipe Real, ao centro. O palacete foi construído em 1877 segundo desenho de Carlos Afonso. Fotografia da autoria de Francesco Rocchini.

Ilustração retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



Em Portugal o revivalismo que mais se identificou com a identidade nacional foi o neo-manuelino e o neo-românico. A fonte de inspiração, para o neo-manuelino, foram os edifícios construídos durante o reinado do Rei Dom Manuel I. O desenho arquitectónico e espacial tem influências do gótico praticado noutros países europeus, ao qual adicionaram referências marítimas e de carácter nacional.




Janelão da Igreja da Madre de Deus, em Xabregas, mandado construir em 1509 pela Rainha Dona Leonor, mulher do Rei D. João II. As influências góticas são visíveis no seu desenho arquitectónico.



Nas obras de ampliação e remodelação do Convento de São Jerónimo, em Sintra a partir de 1839, por interveniência do Rei consorte Dom Fernando II (alemão e casado com a Rainha Dona Maria II) é um dos melhores exemplares arquitectónicos do neo-manuelino. O edifício transformou-se no actual Palácio da Pena e no seu desenho arquitectónico participou o Rei, João Henriques, Wilhelm Ludwig von Eschwege (Baron Von Eschwege) e Wenceslau Cifka, entre outros.




Palácio da Pena, vista geral, com neve. Fotografia da autoria de António Passaporte.

Ilustração retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.



Estes revivalismos, como temos visto, influenciaram o design dos queimadores a petróleo. A manufactura berlinense Wild & Wessel é exemplo paradigmático.
As entradas de ar nos queimadores Kosmos e Kosmos Vulkan, são compostas por um padrão inspirado em motivos góticos. A grelha de suporte das chaminés com as suas copas e ouros são de uma elegância extrema.




Kosmos 14´´´e Kosmos Vulkan 18´´´já publicados da Wild & Wessel.



O queimador Agni tem outras estilizações. A grelha de suporte da chaminé assemelha-se com as janelas góticas. As perfurações, para a entrada de ar, são alongadas e singulares.




Agni Brenner 20´´´com chave elevatória e espalhador, duas perspectivas. Este queimador encontra-se presentemente a ser restaurado.




Duplex Burner da inglesa Evered & C.º em banho de prata. A chave elevatória é claramente inspirada em motivos góticos.




Kosmos Brenner 14´´´da manufactura alemã Hugo Schneider. As entradas de ar, alongadas e de aspecto sóbrio, contrastam com as perfurações de gosto medieval da grelha de suporte da chaminé. Outro ponto singular é o corpo ser abaulado para dentro, o que é raro entre o mundo dos queimadores.



O design destes queimadores acompanhou a evolução estilística que ocorreu. A manufactura berlinense Ehrich & Graetz lança em 1895 o seu grande sucesso comercial: Matador Brenner.




Matador Brenner 20´´´com chave elevatória e espalhador. A grelha é de um simplicidade eficaz, perfurações alongadas e paralelas. O suporte da chaminé tem elegantes curvaturas que acompanham o restante design do queimador.

            



A evolução extraordinária dos queimadores para petróleo não tem fim. As inovações na obtenção de maior incidência de luz acompanham os motivos decorativos, diferenciando cada nova linha pelo seu design.

Sem comentários:

Enviar um comentário