quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Candeeiros americanos da Belle Époque, denominados Gone With the Wind



Os candeeiros denominados Gone With the Wind foram produzidos no final do século XIX e início do XX em pelo menos três manufaturas americanas. Anacronicamente fizeram parte dos adereços do filme Gone With The Wind (E Tudo o Vento Levou) em 1939. O período cronológico do filme começa dias antes de ser anunciada a Guerra Civil (que começou no dia 12 de Abril de 1861 e terminou a 9 de Maio de 1865) até à década de 70 do século XIX. O filme teve um sucesso estrondoso e ficou até hoje a designação para este tipo de candeeiros. 




Chegada da família O'Hara à plantação Twelve Oaks. Os actores são da esquerda para a direita: Vivien Leigh, Evelyn Keyes, Alicia Rhett, Ann Rutherford e Howard C. Hickman (de costas).

Ilustração retirada do seguinte link:




Serão à luz do candeeiro para petróleo. As atrizes são da esquerda para a direita: Vivien Leigh, Hattie McDaniel, Olivia de Havilland, Leona Roberts e Alicia Rhett.
Ilustração retirada do seguinte link:

http://www.gettyimages.pt/license/152216307


Outra perspetiva do serão. As mesmas atrizes exceto Hattie McDaniel.
Ilustração retirada do seguinte link:


Efetivamente estes candeeiros evoluíram dos denominados vase ou parlor lamps (candeeiro jarra ou para sala, como eram chamados em Portugal), que começaram a aparecer no mercado americano por volta de 1875.
A principal característica é o reservatório ficar camuflado e ser amovível, de forma a facilitar a sua limpeza e abastecimento. Este fica escondido por um corpo exterior em vidro, geralmente decorado com pinturas ou saliências. O globo combinava com esta peça, enriquecendo o conjunto.




Parte do catálogo dos Armazéns Silber & Fleming, Londres, 1885 a 1898, página 237. Os candeeiros são em vidro, da Boémia, com vários queimadores e quebra-luzes. São todos designados como Vase Lamp.

Na década de 90 do século XIX este tipo de candeeiros adquirem certas especificidades. As dimensões aumentam, as cores são variadas, as peças metálicas são compatíveis com as de vidro, havendo por isso trocas entre as diferentes manufaturas. Os reservatórios aumentam de tamanho, os queimadores têm maior capacidade de luz e são de corrente de ar central.
As principais manufaturas que se dedicaram ao seu fabrico foram a Fostoria Glass Company, a Consolidated Lamp and Glass Company e a Pittsburgh Lamp, Brass & Glass Company.



A primeira foi fundada a 15 de Dezembro de 1887 na cidade de Fostoria, estado de Ohio. Os primeiros proprietários foram Lucian B. Martin e William S. Brady. Poucos anos depois mudaram a sede e instalações fabris, em 1891, para Moundsville, estado de West Virginia.
Foi uma das maiores fábricas de vidro americanas. Produziram peças em vidro moldado, prensado e soprado. Fabricaram serviços para mesa, peças decorativas, candeeiros para petróleo, para gás e para eletricidade.
Nos candeeiros o reservatório e queimador eram marcados Royal e Fostoria.
No catálogo de 1904 mencionam que as pinturas sobre vidro eram obtidas a fogo, daí a sua durabilidade e elevada qualidade de fabrico.
Encerrou em 1986.




Vista parcial das instalações fabris da Fostoria Glass Company.
Ilustração retirada do seguinte link:





Parte do catálogo de 1904 da Fostoria Glass Company. Na primeira imagem são candeeiros para petróleo, candeeiros para gás, jarras e a sala de exposição em Chicago (808 Masonic Temple, este arranha céus foi considerado o mais alto da cidade até 1899).



A segunda teve origem na fusão entre a Fostoria Shade & Lamp Company, de Ohio, e a Wallace and McAfee Company, de Pittsburgh, em 1894. A primeira sede foi em Ohio mas, após um incêndio em 1895 mudaram-se para Coraopolis, estado de Pennsylvania. Os fundadores foram F. G. Wallace, Hugh McAfee, Charles H. Dean, J. B. Graham (secretário), Joseph G. Walter (tesoureiro) e Nicholas Kopp (gerente). A sede era em Pittsburgh.
Inicialmente a produção incidiu em: peças para candeeiros; quebra-luzes; globos; jarras; fruteiros; peças para binóculos; cache pots; serviços de mesa (para refresco, para condimentos, para legumes, para mel e melaço) e serviços para toilette.
No catálogo de 1901 informam-nos que as decorações eram na sua maioria pintadas à mão. Consideravam-se os maiores especialistas em cores, nomeadamente o famoso cerise. Os candeeiros tinham um reservatório, queimador e espalhador marcados Royal e Consolidated.
Os candeeiros para petróleo geralmente tinham peças fabricadas pela Plume & Atwood Manufacturing Company.
O químico Nicholas Kopp introduziu o vidro iridescente e o royal copper, que tinha sido apresentado na Exposição Universal de Chicago em 1893.
Em 1910 empregava mais de 400 trabalhadores, tornando-se na maior manufatura de luminária americana.
Na década de 20 enveredam pelo vidro decorativo, após terem participado em L’Exposition internationale des arts décoratifs et industriels modernes, em 1925 na cidade de Paris. Deram assim início à produção de vidro americano ao gosto Art Deco.
A manufatura fechou em 1933 devido à Grande Depressão.




Fases no processo de fabrico de um candeeiro.




Folheto com várias peças fabricadas pela Consolidated Lamp and Glass Company, anterior a 1899. No topo são leiteiras, galheteiros, taças, manteigueiras e açucareiros, entre outras peças para servir à mesa. No canto superior esquerdo o serviço é na cor cerise. Em baixo são globos e candeeiros para petróleo.
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Ilustração retirada do seguinte link:





Instalações fabris e jarros para xarope no catálogo de 1894.




Variados tipos de candeeiros para petróleo que são do tipo: de torcida plana (uma imagem), de corrente de ar central (três imagens) e para luz de presença ou de noite (uma imagem).



A terceira e última manufactura foi originalmente fundada como Kopp Glass, em 1900, pelo referido químico Nicholas Kopp. Logo no ano a seguir Kopp consegue reunir novos sócios e funda a Pittsburgh Lamp, Brass & Glass Company, também conhecida pela abreviatura Pilabrasgo.
Nicholas Kopp foi um dos mais importantes químicos na indústria do vidro. Desenvolveu vários tons de vidro, entre eles o denominado Selenium Red Glass, de tom avermelhado e de baixo custo na sua produção. Este vidro foi também usado nos sinais de tráfego ferroviários. Nos dias de hoje ainda é utilizado mundialmente nos sinais de trânsito rodoviário e aéreo.
O sucesso foi enorme e a manufatura absorve, em 1903, a Dithridge Company, fundada em 1863. A partir desse ano a manufatura passa a ter três unidades fabris, uma em Pittsburgh, outra em Swissvale e a terceira em Jeannette, todas no estado de Pennsylvania.
Tinham salas de exposição em Nova Iorque, Philadelphia, Boston, Baltimore, Chicago, San Francisco, St. Louis e Kansas. No Canadá era na cidade de London, Ontário.
Os candeeiros para petróleo têm reservatórios, queimadores e espalhadores marcados Success.
A manufactura abre falência em 1926. Nicholas Kopp no mesmo ano funda a Kopp Glass Incorporation, que ainda hoje existe. Dedicam-se a sinais de trânsito e outro tipo de peças em vidro.




As três unidades fabris da Pittsburgh Lamp, Brass & Glass Company, representadas em 1916 no catálogo da manufatura.





Anúncio publicitário aos candeeiros da manufatura. Publicado em 1905 no catálogo dos armazéns Gray & Dudley, Nashville, Birmingham. Ilustração retirada da internet.




Candeeiro com o motivo Sheiks of the Desert. Ilustração retirada da internet.




Candeeiro com o motivo Great Horned Owls, infelizmente eletrificado. Ilustração retirada da internet.





Parte do catálogo de 1916 com variados designs para candeeiros elétricos e seus usos. No catálogo ainda eram fabricados candeeiros para gás e para petróleo, como os que foram reproduzidos na quarta imagem.



A produção deste tipo de candeeiros é distinta entre as três manufaturas. O seu fabrico prolongou-se sensivelmente até ao ano de 1920. Produziram variados designs e que foram:

- motivos padronizados salientes de flores, de cachos de uva ou caras de querubins. Geralmente numa cor sólida, havendo exemplares em várias cores, com acabamento fosco ou brilhante, em vidro opaco ou transparente;
- composições florais polícromas sobre fundo colorido. Estes são os mais característicos do período;
- paisagens campestres, com animais ou arquitectura, numa determinação estação do ano (o Inverno foi uma estação muito recorrente);
- figuras zoomórficas enquadradas por composições vegetalistas;
- figuras humanas, na grande maioria femininas, também enquadradas pelo mesmo tipo de composições.

São estes os principais motivos recorrentemente utilizados.
Estes candeeiros são profundamente americanos. Simbolizam o crescimento económico, o fabrico em série, o consumo doméstico e o uso intensivo do petróleo como fonte de iluminação.
Além da sua função de iluminação, são peças sobretudo decorativas.




Candeeiro da Fostoria Glass Company aceso, duas perspectivas. Ilustrações retiradas da internet.



Estes candeeiros são fáceis de se recuperarem. Os processos de eletrificação geralmente não danificam as partes metálicas. O fio passa pelo tubo de ar central e assenta no lugar do espalhador, que na maioria das vezes já não se encontra com o candeeiro. O espalhador facilmente se encontra à venda, assim como as chaminés apropriadas e as torcidas. O mais difícil é encontrar um quebra-luz original e com o mesmo motivo que o corpo do candeeiro.