quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Julio Gomes Ferreira & C.ª Ld.ª



O estabelecimento comercial Julio Gomes Ferreira & C.ª Ld.ª ficava nos números 166 a 170 (sendo este também o número da entrada para o vestíbulo do edifício, com a escadaria ao fundo) da Rua Áurea, no piso térreo de um edifício dito pombalino. Tinha também outras instalações, no mesmo quarteirão mas noutro edifício, nos números 82 a 88 da Rua da Vitória. As oficinas a vapor ficavam nos números 17 e 19 da Rua de São Tiago.

Não sabemos quando foi fundada e foi um dos fornecedores da Casa Real.

O seu nome surge regularmente na consulta de vários projetos de arquitetura, sobretudo no início do século XX, nomeadamente na obra desenvolvida do arquiteto Manuel Joaquim Norte Júnior, na do arquiteto Leonel Gaia, na do arquiteto António do Couto de Abreu e na do arquiteto Miguel José Nogueira Júnior.

Foi um dos principais fornecedores de instalações de água, de luz elétrica e de gás. Também instalava louças sanitárias, tinas de banho, ascensores, para-raios, aparelhos para aquecimento, para iluminação, campainhas, tubos acústicos e fechaduras elétricas. Além dos serviços prestados vendia esquentadores, vários tipos de lustres, de candeeiros, bocas-de-incêndio, mangueiras de lona, mangueiras de borracha, termos, fogões de cozinha e de sala.

A nível de candeeiros havia para eletricidade, para gás, para petróleo e para velas.

A fachada da loja para a Rua Áurea foi remodelado no início do século XX. Mantiveram a passagem para o acesso vertical do edifício, com vitrines, e a fachada da loja foi remodelada. Nas obras suprimiram as duas portas em cantaria por uma só, ladeada por duas montras. Entre uma das montras e a passagem para o edifício havia um painel em azulejo.

O painel em azulejo foi pintado pelo artista Júlio A. César da Silva, tendo como base azulejos da então Real Fábrica de Louça de Sacavém. O pintor representou uma figura feminina, com vestes brancas cingidas ao corpo, e que está a andar sobre o globo terrestre. Os seus cabelos louros caem sobre as costas e tem uma estrela na cabeça. Na mão direita segura um candeeiro elétrico, com abat-jour verde. Desta forma ilumina parte da Europa, da África, da Ásia e da Oceânia. Na parte inferior o globo e as pernas da figura estão envoltas por nuvens. A parte superior da composição tem fundo cinzento claro, com estrelas e a lua em quarto minguante. O nome do estabelecimento comercial encima a composição, com letras estilizadas e pintadas em vermelho.

Este painel é de muito boa qualidade, tanto a nível estético como técnico. Foi pintado propositadamente para a fachada da loja, é uma síntese do que se vendia, valoriza a iluminação elétrica e é extremamente apelativo. A representação da figura feminina, o grafismo, a utilização das cores e o equilíbrio é extraordinário.

Felizmente que o painel foi removido e salvaguardado pela Câmara Municipal de Lisboa. Recentemente foi exibido na exposição Fragmentos de Cor | Azulejos do Museu de Lisboa.

Não sabemos o ano em que encerrou e actualmente é a Diadema Joalheiros, fundada a 13 de Outubro de 1966, que ocupa das antigas instalações da Rua Áurea.




Publicidade na Illustração Portugueza número 97, ano 1907.




Painel publicitário da autoria do pintor Júlio A. César da Silva, aquando da sua exibição na exposição Fragmentos de Cor | Azulejos do Museu de Lisboa, quatro ilustrações.




Anúncio publicitário na obra Sociedade dos Architectos Portuguezes Annuario MCMV, 1905.




Anúncio na publicação periódica Azulejos, em 1909.




Montra de um dos estabelecimento da Julio Gomes Ferreira & C.ª Ld.ª, sem data e sem autor identificado. Os candeeiros expostos são para azeite mas, já de origem para luz elétrica. A faixa em vidro, com o nome da firma, parece ser de origem e aquando da remodelação do início do século XX.

Ilustração retirada do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.




Os números 166 a 170 em 2008, aquando de um trabalho que realizei para arquitetura.