quarta-feira, 3 de maio de 2017

Candeeiro da manufatura Wild & Wessel número 1409




No passado dia 29 de Abril do corrente ano fui à feira e tinha como intuito comprar livros da Colecção Vampiro. O senhor que os vende não foi e lembrei-me que na semana passada tinha visto um queimador Kosmos da Wild & Wessel. O queimador é tamanho 14 e tem falta do aro metálico para pousar o abat-jour. Não o quis comprar e lembrei-me de que fazem sempre falta peças sobresselentes. Fui procurar o vendedor e também nesse dia não foi à feira. Efetivamente faltaram uns quantos feirantes porque a previsão era de chuva. Ao deambular pelos restantes feirantes dei de frente com um candeeiro que me chamou de imediato a atenção. O instinto disse-me logo que era um Wild & Wessel. Andei para a banca onde estava e desmontei todas as peças. O abat-jour em boa condição, a chaminé é inapropriada, o queimador está em bom estado e completo mas, pintado em purpurina, e o candeeiro encontra-se em belíssimas condições. Peguei logo nele e identifiquei-o como sendo da referida manufatura, tem o número 1409 e um losango em altos-relevos. Este losango é um registo britânico com a classe, o dia, o mês e o ano de fabrico da peça. Este registo indica que o candeeiro foi fabricado antes de 1883 ou nesse ano (infelizmente os traços estão quase impercetíveis e não podemos averiguar ainda o ano de fabrico). Este registo poderá indicar que o candeeiro foi fabricado para o mercado britânico ou para um retalhista (por exemplo os armazéns britânicos abertos na cidade de Paris, como a Maple & Cº Ltd.). Perguntei o preço e comentei que o queimador estava pintado de dourado, tinha sido reparado (realmente as três bases do aro do abat-jour foram reparadas) e retirei-me. Pensei duas vezes: ou pago o preço que ele me pediu ou faço uma oferta aceitável. Optei por esta segunda via e o vendedor imediatamente embrulhou devidamente o candeeiro.

O candeeiro é exemplificativo do período posterior a 1870. A partir desta data a Wild & Wessel, entre outras manufaturas alemãs, foram buscar inspiração ao período barroco germânico. Começaram então a produzir diversos candeeiros, peças decorativas e outros objetos em bronze, em latão e em zinco. Esta última liga é barata, é maleável e de fácil modelagem. Foi a preferida para se produzirem diversas peças baratas para o público. Na Alemanha eram denominadas Zink. Em Portugal nos velhos recibos e outra documentação também eram designados por zinco. Nos mercados e lojas temos verificado que são designados por bronze de arte ou liga de estanho/antimónio. Não temos ainda a certeza se estas designações são corretas. A primeira parece-nos forçada e pretensiosa, visto estes objetos terem sido produzidos às centenas e milhares. Na altura o preço do bronze e do latão, para produzir este tipo de candeeiros, era elevado.

O candeeiro é pequeno, tem uma boa proporção e é um deleite para os olhos.
A forma e as peças indicam que é um candeeiro jarra. Esta designação é a mesma que se empregava na Alemanha, na França, no Reino Unido e no nosso país.
A forma parece um jarra ou um cálice, tem duas pegas laterais e uma tampa, com o reservatório colado.
A base é redonda e tem folhas de acanto e outros motivos. Desta partem várias peças decoradas, com estilização semelhantes, e soldadas.
A jarra em si tem duas molduras estilizadas e no topo pendem fitas e grinaldas de flores (na maioria rosas). Estas caem em cachos e vários putus seguram-nas. Numa das faces estão três putus com as grinaldas de flores, dois dele têm cachos de uvas e um terceiro tenta tirar alguns bagos, talvez uma alusão ao fim do Verão ou Outono. Na outra face os putus têm: um segura uma flecha e tem uma aljava com setas; outro tem duas pandeiretas ou pratos e o último tem uma tocha acesa. Esta composição alude ao amor, à festividade e à chama.
As duas pegas laterais são encimadas por cabeças de carneiro, com estilizações em redor.
A tampa do reservatório tem também folhas de acanto estilizadas. O reservatório é em vidro transparente e tem forma cilíndrica.
O queimador é Kosmos, tamanho 10 e tem três suportes para sustentar o aro do abat-jour.
O abat-jour é em vidro opaco branco e é muito provavelmente o original. A mesma forma e a proporção é semelhante aos que foram fabricados pela manufatura.

O primeiro passo foi limpar devidamente, remover a tinta e polir o queimador.
O segundo foi optar pelo restauro do candeeiro. Este tipo de candeeiros tinham uma camada superficial de cobre, que era a original, e ainda tem vestígios. Com o tempo a liga metálica à base de zinco oxida e a camada desaparece. Optei por pintar com tinta (tom ouro velho escurecido) o candeeiro e uma camada escura por cima. O resultado foi péssimo. Removi tudo e deixei o candeeiro sem camada nenhuma de tinta. De futuro espero ponderar por outra solução.



O candeeiro, três perspetivas.



A base do candeeiro.



As duas faces do candeeiro e um detalhe da antiga camada de cobre.



As pegas laterais que terminam nas cabeças de carneiro.



O reservatório e a jarra separados.



O reservatório.



O queimador.



Estampa número 19 do catálogo comemorativo dos 50 anos da Wild & Wessel, publicado em 1894 em Berlim. Os candeeiros são em zinco, têm semelhanças ao que é aqui apresentado e foram fabricados de 1870 a 1880.




O candeeiro aceso.

2 comentários:

  1. A MELHOR SOLUÇÃO É DEIXA-LO ASSIM COMO ESTÁ SEM PINTAR FICA LINDO COM TODOS OS VESTÍGIOS DO COBRE.

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    1. Obrigado, sim, neste caso foi preferível ficar como está e realçar os tons cinzentos do metal.

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