sábado, 3 de junho de 2017

Candieiro pequenino com abat-jour em seda





Não há nenhum erro no título ao escrever candieiro. No início do século XX era assim que eram designados este tipo de candeeiros e era desta forma que se escrevia. Esta designação é a que temos encontrado na documentação da época referida.
O abat-jour está finalmente terminado e na sua conceção houve fárias fontes de inspiração.
A primeira foi o abat-jour do candeeiro que pertenceu à Rainha Maria Pia, que está no Palácio Nacional da Ajuda. A forma quadrada, os aros dobrados em curva, o remate no topo, a forma como a renda tapa parte da seda e as fitas nas pontas da armação. A princípio ainda ponderei também plissar o tecido mas, no fim não a segui. Não foi por uma questão de estética. A razão foi a que é uma coisa difícil e precisa de ser bem-feita por alguém com mais experiência.
A armação tomou assim forma e foi revestida a seda. Com o azul especificamente idealizado e felizmente existente em Lisboa. Este tom coaduna-se com o cobre e o latão das peças metálicas.
O topo foi preenchido com um frou-frou de seda branca, para contrastar com o azul, além de quebrar um pouco a cor, senão ficaria muito preponderante em relação aos outros tons.
O próximo passo foi arranjar renda a metro apropriada. Após vários meses de procura de rendas com tule 100% algodão desisti. Parece que já não há no mercado tule com bordado totalmente nessa fibra natural. O tule há em 100% algodão e noutras fibras sintéticas. No fim optei por um tule sintético e com bordados 100% algodão. Não fiquei dececionado, antes pelo contrário, e a qualidade é muito boa. A escolha recaiu sobre um motivo padronizado composto por círculos e outras estilizações. O gosto ocidental deste motivo contrasta com o abat-jour e com o próprio candeeiro. Estes por sua vez são uma mistura entre o ocidente e o oriente.
O próximo passo foi coser a renda com tule à seda. No final coser este véu ao abat-jour e terminar o que faltava.
O passo final foram as fitas de seda. Ponderei usar o mesmo tom de azul, para quebrar o branco, e outro tom de azul-claro. Neste tom foram usadas duas fitas de seda com largura diferente. A conjugação destas fitas realça e enriquece todo o abat-jour. Estas fitas são o elemento que falta para enfatizar ainda mais o carácter fin de siècle almejado. Na mesma altura passei uma vista de olhos pelo álbum, publicado em 1898, Los Salones de Madrid. Este foi decisivo para terminar o abat-jour com as argolas metálicas em dourado. Estas quebram o azul e o branco, além de se integrarem com o dourado do queimador.
A luz é suave, quebrada e velada. Realça com luz e cor um determinado ponto no espaço. Estes abat-jours são um mimo, algo muito pessoal e servem para enquadrar um ponto desejado.




O candeeiro com o abat-jour, cinco ilustrações.




O candeeiro aceso com o abat-jour, cinco ilustrações.