segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Candeeiro para petróleo alemão, 1870 a 1910



O candeeiro que vos apresento foi adquirido no passado mês de Novembro. Foi-me sugerido por um amigo e fiquei desde logo encantado. Um dos atrativos foram os animais fantásticos que servem como pegas, que nos remetem para uma certa atmosfera misteriosa novecentista. Na altura estava com vontade de ler o Drácula de Bram Stoker, que foi recentemente editado em português, e deixei-me influenciar. Os outros atrativos foram a proporção equilibrada entre as peças que o compõem, a elevada qualidade na moldagem dos motivos, a expressividade e o equilíbrio dos motivos estilizados. Todo o candeeiro foi pensado como um todo, além de ter um certo carácter masculino. Não pensei duas vezes e decidi ficar com ele.



O candeeiro é de fabrico alemão mas, infelizmente desconheço a manufatura que o produziu. Todavia a tampa tem semelhanças flagrantes com as tampas dos candeeiros número 1918 e 2243 da Wild & Wessel de Berlim. Os motivos estilizados indicam que terá sido fabricado no período de 1870 a 1910.



A base do candeeiro tem motivos estilizados setecentistas, inspirados nas peças de ourivesaria barroca. Os quatro pés têm concheados e folhagens que envolvem superfícies ovaladas. Entre eles há motivos de folhagens e entrelaçar de linhas curvilíneas. Desta base parte outra peça. Também com motivos de folhagens e de linhas curvilíneas mas, ao gosto greco-romano e egípcio. Este gosto por estas duas épocas passadas esteve em voga de 1860 a 1880, coincidindo com o gosto pela época do barroco. Naturalmente aproveitaram estes dois moldes e soldaram as peças, enfatizando assim o gosto eclético tão característico do século XIX.

Neste período as manufaturas usavam no mesmo candeeiro vários moldes, os quais eram compatíveis entre si. Desta maneira um molde, usado anteriormente, podia ser aproveitado para novos modelos de candeeiros. Efetivamente temos vindo a observar em inúmeros modelos as mesmas peças moldadas. Estas estão viradas ou foram conjugadas com outras de fabrico posterior.

No topo destas peças há outra com motivos estilizados setecentistas de escamas, medalhões côncavos e folhagens. Esta peça revela o gosto germânico pelas escamas, empregue na pintura sobre porcelana setecentista.

Finalmente por cima desta há outra peça com motivos de folhagens, intercalados por secções vazadas, onde assenta o corpo principal do candeeiro. Nesta união houve um erro ao soldarem as peças. O corpo principal ficou ligeiramente descentrado em relação às outras peças anteriores. Este é dividido em seis secções, o que contrasta com a base quadrada. Em cada secção há uma moldura estilizada, encimada por folhagens, que tem como fundo motivos vegetalistas. Estes têm baixo-relevo e linhas horizontais. Entre cada secção há a encimar um escudo, que tem como base um mascarão, e outros motivos estilizados. O topo termina com folhas estilizadas de acanto. Todas estas estilizações remetem para o barroco e um certo gosto pela renascença.

As duas pegas laterais têm como base outro mascarão. Este tem no reverso outros motivos e no qual é enroscado um parafuso. Este fica camuflado no interior do candeeiro e é preso por uma porca. Todo este requinte revela qualidade na conceção deste candeeiro. No topo de cada pega há outro escudo e a cabeça de um animal. Este tem traços felinos, dentes aguçados, orelhas em bico e juba. Os escudos e estes animais remetem-nos para a nobreza ancestral e o período gótico.

A tampa tem motivos estilizados de conchas e mascarões com aspeto ameaçador. Estes têm a boca aberta, dentes afiados e olhos irados. Estes motivos coincidem em número com as secções do corpo principal. Extraordinariamente esta tampa ainda conserva parte do revestimento acobreado original, assim como a base.

Este candeeiro é exemplificativo da mistura de épocas passadas num objeto moderno.



O candeeiro veio para as minhas mãos com uma camada de verniz transparente castanho. Não é original e extraordinariamente realça os referidos vestígios de cobre. Como o verniz foi mal aplicado decidi removê-lo. Na recuperação espero voltar a pintar o candeeiro com uma superfície semelhante.



O reservatório original, em vidro, já não existe. Na tampa estava ainda o gargalo preso com gesso. O candeeiro foi a determinada altura eletrificado, passando o fio elétrico pelo queimador e pela base. Felizmente o queimador não foi prejudicado pelo processo e é um Matador 15''', da manufatura berlinense Ehrich & Graetz, sem o espalhador.

Após medidas exatas consegui encontrar um reservatório em vidro. Este é antigo e foi enviado da Alemanha por um amigo. Quando chegou assentou que nem uma luva no candeeiro. Tendo sido colado com gesso à tampa.



O queimador Matador foi limpo e arrumado. Confesso que não gosto de o ver neste candeeiro. Fica desproporcional e é de qualidade mediana, para um candeeiro deste género. Na altura tinha pensado no queimador Patent Reform – Kosmos – Brenner da Schuster & Baer de Berlim. O qual tinha sido anunciado na publicação anterior mas, não gostei da forma como assentou na tampa. Passados pouco dias adquiri outro candeeiro com um queimador Kosmos Vulkan 16''' da Wild & Wessel. Decidi experimentar o queimador no candeeiro e o efeito foi bastante satisfatório. O queimador assenta elegantemente na tampa, a sua proporção e design conjugam-se harmoniosamente com o candeeiro. Foram estas felizes coincidências que o tornaram ainda mais atrativo.



O quebra-luz que está agora colocado é um globo. Este fica proporcional com o candeeiro e as estilizações conjugam-se. No entanto tinha idealizado uma tulipa ou um globo com frisados no topo. Esta inspiração partiu de uma fotografia dos candeeiros que a Wild & Wessel levou, de 1888 a 1889, a uma exposição na cidade australiana de Melbourne. No mostruário tinham candeeiros deste género em zinco, em bronze e em latão, com variados quebra-luzes.

Espero vir a encontrar no futuro o quebra-luz idealizado.



Seguem as fotografias do candeeiro.



O candeeiro com o globo, duas ilustrações.



A base, duas ilustrações.



O corpo principal do candeeiro, duas ilustrações.



As pegas laterais, quatro ilustrações.



O candeeiro com o globo e o queimador, três ilustrações.




O candeeiro com o reservatório amovível ao lado.




O reservatório com o queimador.




A tampa e os detalhes dos motivos estilizados, três ilustrações.




Mostruário da manufatura Wild & Wessel na exposição em Melbourne.