quinta-feira, 3 de maio de 2018

Candeeiro para petróleo em porcelana da manufatura Rauenstein e queimador da manufatura Schwintzer & Gräff de Berlim


No século XIX fabricaram-se variados tipos de candeeiros portáteis em vidro, em metal e em cerâmica, entre outros materiais. Estes têm geralmente uma haste concêntrica com pega no topo, concebidos para secretária, ou uma pega lateral, para serem transportados de um lado para o outro. Foram construídos de acordo com um sistema para um determinado combustível e o respetivo queimador. Desta forma otimiza-se a intensidade da luz e que pode ser controlada, ou não, por um quebra-luz. A luminosidade e o seu direcionamento visam determinadas funcionalidades que são: a de iluminar uma superfície plana de acordo com o quebra-luz empregue; a de iluminar a área circundante ao foco de luz; a de iluminar numa determinada direção, de acordo com uma peça colocada especificamente no queimador, de forma cónica e de material reluzente, entre outras funcionalidades. Outra constatação é o seu fácil manuseamento que deriva da construção, do uso dos materiais e de outras características, facilitando assim a vida quotidiana.



O candeeiro que vos apresento é em porcelana da manufatura alemã Rauenstein, então sediada na aldeia homónima na região da Turíngia, e foi fundada a 3 de Março de 1783 pelos irmãos Greiner, Johann Georg, Johann Friedrich e Christian Daniel Sigmund, num castelo, então pertencente ao Duque Jorge I, duque de Saxe-Meiningen (1761-1803). Nesta aldeia houve todas as condições favoráveis para o seu rápido desenvolvimento: mão-de-obra; matéria-prima e madeira para os fornos. No ano de 1794 empregava já 174 trabalhadores e a produção inicial concentrou-se em serviços para bebidas quentes, cujas formas e motivos foram inspirados nos congéneres fabricados pela prestigiante manufatura de Meissen. No entanto as peças produzidas pela Rauenstein são em porcelana mais grossa e com uma pintura menos cuidada, daí a sua popularidade e a proliferação para outros países como a Rússia, a Dinamarca, a Suécia e a Holanda. Em 1823 exportava para vários estados alemães, para a Bélgica, para a Áustria e para a Letónia.

No ano de 1849, após a morte dos três irmãos fundadores, as acções foram vendidas ao comerciante Georg Heinrich Wirth, cujo filho Ernst Wilhelm Georgii assumiu a direcção e apostou em novos produtos. O sucesso foi garantido e em 1881 a manufatura era dirigida por Franklyn Georgii.

No ano de 1893 lançaram no mercado várias peças decoradas ao gosto das de Delft, situação que desagradou aos holandeses e que a processaram sem sucesso por plágio.

No ano de 1906 empregava 650 trabalhadores e produzia uma vasta gama de produtos. Tinha representantes em Londres, em Bruxelas, em Roermond, em Paris, em Berlim e em Hamburgo, todavia entra em declínio devido à concorrência.

Encerrou em 1930 e as instalações foram desmanteladas.



No candeeiro há as seguintes marcas:



- duas espadas cruzadas e R N, referente ao período de 1850 a 1897;

- numeração 121 incisa na pasta.



Podemos então concluir que este exemplar foi fabricado entre 1893 a 1897.

A forma é a de um paralelepípedo e tem nas quatro faces altos-relevos ao gosto rocaille. Estes são uma cercadura que envolvem a superfície rectangular, de forma a deixar livre o centro para poder ser, ou não, preenchido com pintura. Nas quatro extremidades e em ângulo há quatro pés, encimados cada um por uma superfície ovalada e envolta por ornatos. Numa das extremidades do topo tem uma pega bipartida e assimétrica no mesmo gosto.

As cercaduras, os pés e a pega foram realçados com pintura em tons de azul, como se fosse um pontilhado.

Nas quatro faces foram pintadas cenas à beira de água e que são:



- duas iguais de um moinho holandês, com dois andares, uma árvore e vegetação à beira de uma margem. Na água está, em segundo plano, um barco à vela. Toda esta composição é encimada por nuvens e três aves a esvoaçarem;

- as restantes têm cada uma três barcos à vela, em planos diferentes, encimados também por nuvens e por três aves.



Toda esta pintura foi feita à mão e reflete o gosto pela louça de Delft. O pontilhado, as cenas à beira de água e a delicadeza do traço revelam qualidade e expressividade.

Este tipo de candeeiro é denominado por Boudoirlampe, que significa candeeiro para boudoir ou aposento, nos catálogos alemães do final do século XIX e início do século XX. Por exemplo no da Schubert & Sorge, de 1897 a 1898, este candeeiro sem pega, queimador Kosmos no tamanho 8, respetiva chaminé, aranha para globo em latão e globo pintado tinha o custo de 3.50ℳ.

O queimador enroscado é um Kosmos, no tamanho 8, da manufatura berlinense Schwintzer & Gräff. No botão do regulador da torcida tem em alto-relevo o seguinte: PRIMA RUNDBRENNER, que significa queimador fino para arredondar. No tardoz tem a sigla S & G referente à manufatura.

Não veio com nenhuma galeria ou suporte para quebra-luz.



Na cidade de Lisboa havia pelo menos um candeeiro deste género e mais não digo.



O candeeiro, duas perspetivas.








As quatro faces do candeeiro e respetivas cenas.




Pormenores do candeeiro.








As marcas da manufatura na porcelana.



O queimador Kosmos da Schwintzer & Gräff.








Detalhes do queimador.



O mesmo modelo, sem pega lateral, no catálogo de 1897/1898 da Schubert & Sorge.