sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Light in a Glass ou os Candeeiros a petróleo



A criação deste blog deve-se ao facto de em Portugal haver um profundo desconhecimento sobre este tipo de iluminação. O blog espera lançar uma luz elucidativa sobre os diferentes meios de iluminação oitocentistas.
O aparecimento dos candeeiros a petróleo, conforme os conhecemos nos dias de hoje, surge por volta de 1850 nos Estados Unidos da América e revolucionará a iluminação nesse país e na Europa. Os aperfeiçoamentos de diferentes tipos de queimadores foram patenteados por várias firmas americanas, inglesas e alemãs a partir da década de sessenta do século XIX.
O meu gosto por este tipo de iluminação começou com o restauro de um candeeiro americano trazido dos Açores, produzido entre os anos de 1870 a 1900, cujo reservatório em vidro moldado e com um encaixe em ferro e latão específico se partiu, ficando as seguintes peças: pé em ferro pintado de preto, peças decorativas em latão, peça em vidro decorada e o queimador. A reposição de peças compatíveis exigiu tempo e sobretudo sorte, a qual foi compensada com a compra online, num conhecido site estrangeiro, de 3 reservatórios compatíveis, dois dos quais com o mesmo encaixe e peças em latão exatas produzidos pela mesma fábrica.
O queimador original tinha sido eletrificado na década de sessenta do século passado, infelizmente danificado para uso a petróleo, e era um Kosmos Brenner 14” produzido pela conhecida fábrica alemã Brökelmann, Jäger und Busse GmbH & Co. (fundada em 1867, situada na cidade de Arnsberg-Neheim, ainda em funcionamento). O próximo passo foi encontrar um queimador em bom estado, igualmente de 14” e da mesma época do candeeiro. O queimador foi localizado numa feira de rua havendo a necessidade de soldar as roldanas que puxam a torcida. O queimador substituto foi produzido por outra conhecida firma alemã, desta vez a Hugo Schneider (fundada em 1863 na cidade de Leipzig e encerrada definitivamente em 1974).
A identificação destas fábricas deve-se ao facto de cada roda denteada exterior ter o nome da fábrica ou algum desenho característico. A roda movimenta a torcida permitindo assim controlar a chama e intensidade de luz.
O nome Kosmos Brenner não é uma fábrica, mas sim um tipo de queimador específico, com chaminé e torcida própria. Literalmente significa o Queimador (Brenner) Cosmos (Kosmos). A palavra Kosmos aparece nos queimadores sensivelmente até 1895, sendo depois acompanhada por Brenner a partir dessa data. A torcida é inserida entre 2 cones, o topo destes é cilíndrico e a meio há a entrada de ar, separada e em comunicação com a grelha exterior em baixo há duas roldanas denteadas que sobem ou descem a torcida, acionadas pela roda exterior.
O seu aparecimento vem do aperfeiçoamento de outro tipo de queimador, o Modérateur, especificamente desenhado para o uso de combustíveis vegetais. Este queimador foi patenteado pela conhecida firma alemã Wild&Wessel de Berlim em 1865 (encerrada em 1903). A sua proliferação pela Europa foi tão vasta que ainda hoje uma conhecida firma francesa, a única na Europa que mantém os mesmos processo de fabrico, ainda os produz.
Os queimadores Kosmos vêm em diferentes polegadas e medidas, que são as seguintes:

- 6”, tem uma chaminé de 34mm, torcida com 35mm de largura;
- 8”, tem uma chaminé de 36mm, torcida com 42mm;
- 10”, chaminé de 39mm, torcida com 50mm;
- 12”, chaminé de 43mm, torcida com 55mm;
- 14”, chaminé de 53mm, torcida com 66mm.

Estas são as medidas aproximadas e fundamentais a considerar na identificação de um queimador, a altura das chaminés é variada. Há vários sites e fabricantes que ainda as comercializam, sobretudo no estrangeiro, mas o formato é sempre o mesmo. As torcidas são fabricadas em algodão, mas a maioria infelizmente não se vende no mercado nacional.
Em Portugal existe a tendência de colocar uma chaminé num queimador pelo simples facto de encaixar nas medidas, o que em muitos casos se revela desastroso. O profundo desconhecimento e informação que grassa entre nós são devastadores, agravado pelo facto de muitos queimadores, alguns raros e de grande qualidade, terem sido completamente danificados em processos dúbios de eletrificação. No estrangeiro tem havido uma tendência para valorizar, respeitar e repor estes queimadores a funcionarem como antes, a qual timidamente se vai notando por cá.

Um dado que é preciso ter em absoluta consideração é o seguinte: para cada tipo de queimador há uma chaminé específica, assim como uma torcida.

Os fabricantes alemães desenvolveram, entre 1865 e 1900 sensivelmente, variadíssimos tipos de queimadores, sempre com o intuito de permitirem uma maior intensidade de luz, os quais foram substituídos com o avanço da iluminação elétrica.
O formato da chaminé é essencial no controlo e otimização da intensidade da chama, que cada queimador tem, proporcionado pela entrada de ar através das perfurações exteriores, algumas ricamente decorativas, para o interior do queimador.



Retornando ao candeeiro antigo americano e após a colocação do queimador ainda faltavam algumas peças para repor o seu estado original:

- suporte para abat-jour com 23cm de diâmetro exterior e encaixe para queimadores Kosmos de 14”, adquirido conjuntamente com uma chaminé Kosmos 14”, globo decorativo e candeeiro em liga de antimónio/estanho numa feira de rua;
- chaminé Kosmos 14”, localizada num conhecido depósito de Lisboa;
- abat-jour em vidro opaline branco, com 23cm de diâmetro;
- torcida em algodão para queimadores Kosmos 14” (a única medida que se vende num conhecido estabelecimento comercial de Lisboa).

Estes artigos levaram o seu tempo a serem adquiridos, mas valeu a pena, visto o candeeiro estar impecável e a funcionar como deve ser. No entanto há outra chamada de atenção importante, os abat-jours para candeeiros a petróleo têm que ser em vidro opaline. A maioria dos abat-jours em vidro que se adquirem no mercado nacional são pintados por dentro à pistola, cujo uso só pode ser com candeeiros elétricos, visto a tinta ficar amarelada e danificada devido ao calor da chama.





O candeeiro após a recuperação