A
criação deste blog deve-se ao facto de em Portugal haver um profundo
desconhecimento sobre este tipo de iluminação. O blog espera lançar uma luz
elucidativa sobre os diferentes meios de iluminação oitocentistas.
O
aparecimento dos candeeiros a petróleo, conforme os conhecemos nos dias de
hoje, surge por volta de 1850 nos Estados Unidos da América e revolucionará a
iluminação nesse país e na Europa. Os aperfeiçoamentos de diferentes tipos de queimadores
foram patenteados por várias firmas americanas, inglesas e alemãs a partir da
década de sessenta do século XIX.
O meu
gosto por este tipo de iluminação começou com o restauro de um candeeiro
americano trazido dos Açores, produzido entre os anos de 1870 a 1900, cujo
reservatório em vidro moldado e com um encaixe em ferro e latão específico se
partiu, ficando as seguintes peças: pé em ferro pintado de preto, peças
decorativas em latão, peça em vidro decorada e o queimador. A reposição de
peças compatíveis exigiu tempo e sobretudo sorte, a qual foi compensada com a compra
online, num conhecido site estrangeiro, de 3 reservatórios compatíveis, dois
dos quais com o mesmo encaixe e peças em latão exatas produzidos pela mesma
fábrica.
O queimador
original tinha sido eletrificado na década de sessenta do século passado,
infelizmente danificado para uso a petróleo, e era um Kosmos Brenner 14”
produzido pela conhecida fábrica alemã Brökelmann, Jäger und Busse GmbH &
Co. (fundada em 1867, situada na cidade de Arnsberg-Neheim, ainda em
funcionamento). O próximo passo foi encontrar um queimador em bom estado,
igualmente de 14” e da mesma época do candeeiro. O queimador foi localizado
numa feira de rua havendo a necessidade de soldar as roldanas que puxam a
torcida. O queimador substituto foi produzido por outra conhecida firma alemã,
desta vez a Hugo Schneider (fundada em 1863 na cidade de Leipzig e encerrada
definitivamente em 1974).
A
identificação destas fábricas deve-se ao facto de cada roda denteada exterior ter
o nome da fábrica ou algum desenho característico. A roda movimenta a torcida permitindo
assim controlar a chama e intensidade de luz.
O nome
Kosmos Brenner não é uma fábrica, mas sim um tipo de queimador específico, com
chaminé e torcida própria. Literalmente significa o Queimador (Brenner) Cosmos
(Kosmos). A palavra Kosmos aparece nos queimadores sensivelmente até 1895,
sendo depois acompanhada por Brenner a partir dessa data. A torcida é inserida
entre 2 cones, o topo destes é cilíndrico e a meio há a entrada de ar, separada
e em comunicação com a grelha exterior em baixo há duas roldanas denteadas que
sobem ou descem a torcida, acionadas pela roda exterior.
O seu
aparecimento vem do aperfeiçoamento de outro tipo de queimador, o Modérateur, especificamente desenhado
para o uso de combustíveis vegetais. Este queimador foi patenteado pela
conhecida firma alemã Wild&Wessel de Berlim em 1865 (encerrada em 1903). A
sua proliferação pela Europa foi tão vasta que ainda hoje uma conhecida firma
francesa, a única na Europa que mantém os mesmos processo de fabrico, ainda os
produz.
Os queimadores
Kosmos vêm em diferentes polegadas e medidas, que são as seguintes:
- 6”,
tem uma chaminé de 34mm, torcida com 35mm de largura;
- 8”,
tem uma chaminé de 36mm, torcida com 42mm;
- 10”,
chaminé de 39mm, torcida com 50mm;
- 12”,
chaminé de 43mm, torcida com 55mm;
- 14”,
chaminé de 53mm, torcida com 66mm.
Estas
são as medidas aproximadas e fundamentais a considerar na identificação de um queimador,
a altura das chaminés é variada. Há vários sites e fabricantes que ainda as comercializam,
sobretudo no estrangeiro, mas o formato é sempre o mesmo. As torcidas são
fabricadas em algodão, mas a maioria infelizmente não se vende no mercado
nacional.
Em
Portugal existe a tendência de colocar uma chaminé num queimador pelo simples
facto de encaixar nas medidas, o que em muitos casos se revela desastroso. O
profundo desconhecimento e informação que grassa entre nós são devastadores,
agravado pelo facto de muitos queimadores, alguns raros e de grande qualidade,
terem sido completamente danificados em processos dúbios de eletrificação. No
estrangeiro tem havido uma tendência para valorizar, respeitar e repor estes queimadores
a funcionarem como antes, a qual timidamente se vai notando por cá.
Um dado que é preciso ter em absoluta
consideração é o seguinte: para cada tipo de queimador há uma chaminé específica,
assim como uma torcida.
Os
fabricantes alemães desenvolveram, entre 1865 e 1900 sensivelmente,
variadíssimos tipos de queimadores, sempre com o intuito de permitirem uma
maior intensidade de luz, os quais foram substituídos com o avanço da
iluminação elétrica.
O
formato da chaminé é essencial no controlo e otimização da intensidade da
chama, que cada queimador tem, proporcionado pela entrada de ar através das
perfurações exteriores, algumas ricamente decorativas, para o interior do queimador.
Retornando
ao candeeiro antigo americano e após a colocação do queimador ainda faltavam algumas
peças para repor o seu estado original:
-
suporte para abat-jour com 23cm de diâmetro exterior e encaixe para queimadores
Kosmos de 14”, adquirido conjuntamente com uma chaminé Kosmos 14”, globo
decorativo e candeeiro em liga de antimónio/estanho numa feira de rua;
-
chaminé Kosmos 14”, localizada num conhecido depósito de Lisboa;
- abat-jour
em vidro opaline branco, com 23cm de diâmetro;
-
torcida em algodão para queimadores Kosmos 14” (a única medida que se vende num
conhecido estabelecimento comercial de Lisboa).
Estes
artigos levaram o seu tempo a serem adquiridos, mas valeu a pena, visto o
candeeiro estar impecável e a funcionar como deve ser. No entanto há outra
chamada de atenção importante, os abat-jours para candeeiros a petróleo têm que
ser em vidro opaline. A maioria dos abat-jours em vidro que se adquirem no
mercado nacional são pintados por dentro à pistola, cujo uso só pode ser com
candeeiros elétricos, visto a tinta ficar amarelada e danificada devido ao
calor da chama.
Uau! Fiquei muito mais esclarecida! É uma pena haver apenas uma mão de pessoas que respeitam as origens e sobretudo estimam este tipo de iluminação mantendo-a no seu estado mais original!
ResponderEliminarGostei muito!
beijinhos
Por acaso encontrie um candeeiro Rayo Junior num ferro velho de Fanhões. Gostava de repor alguma dignidade aquela peça. Já o limpei no entanto tenho algumas duvidas sobre a metedologia a seguir. Vou ter que ver o queimador ( estará completo ? ) adquirir uma chaminé, um vidro e respetivo suporte Pode dar-me algumas indicações ? mail manuel.lourinho@gmail.com tel 964107547
ResponderEliminarCumps Manuel Loiurnho