quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Candeeiro da Joseph Schlossmacher do tipo Carcel


No ano passado andava a fazer pesquisas em sites de leiloeiras e deparei-me com este candeeiro. Tinha ido três vezes à praça e não foi licitado. Telefonei à leiloeira e perguntei se estava disponível, a resposta foi afirmativa e propuseram-me uma oferta. Telefonaram-me nesse mesmo dia a informar que o valor tinha sido aceite e que eu podia ir levantar o candeeiro.

Na fotografia disponível online vi que o candeeiro era provavelmente da manufatura parisiense Joseph Schlossmacher e do tipo Carcel. Estava bastante sujo, eletrificado, com uma camada de verniz de má qualidade e tinha em falta a chave para dar à corda.

No dia em que o levantei confirmei todas as minhas suposições e retirei logo o casquilho, o fio elétrico e uma haste metálica do interior. Verifiquei também que o candeeiro não tinha sido danificado durante o processo de eletrificação e que tinha sobrevivido, no seu interior, o sistema de relojoeiro para bombear o óleo vegetal.

Não imaginam como fiquei feliz por deter um Carcel intacto e ainda por cima de uma das minhas manufaturas preferidas.

O primeiro passo foi limpar, desenroscar o queimador e tentar abrir a tampa na base. Esta é soldada ao reservatório e não a consegui retirar. Não vou estragá-la e prefiro que seja um técnico de confiança a abrir a tampa, para poder desenroscar e limpar o mecanismo, a bomba e o reservatório. As restantes peças foram desmontadas, lavadas, secas e polidas.

O mecanismo de relógio é da afamada Maison Renauld Legrand Aîné de Paris.

No Natal consegui adquirir uma chave antiga de relógio para poder dar à corda.

O candeeiro não está em funcionamento e espero que esteja ainda este ano.



O candeeiro tem uma base quadrangular, com quatro pés e em cada um há uma lira. Nas faces tem recortes, caneluras e estilizações. Sobre esta base assenta uma taça, onde há o buraco para a chave, e um aro metálico com caneluras em alto-relevo. Deste elegantemente ascende na vertical um cone, com outro aro e canelado a meio, que culmina no gargalo. A galeria tem motivos sóbrios vazados e o queimador é em metal prateado, requinte invulgar neste tipo de candeeiros.

Este candeeiro é de grande qualidade técnica e estilística, exemplificativa dos produtos manufaturados pela Joseph Schlossmacher e que era uma das mais prestigiantes em Paris.

As linhas são elegantes e parecem ter sido inspiradas em vasos gregos antigos, mas é sobretudo um testemunho de um período em que o gosto greco-romano esteve em voga no final da década de 50 até à de 70 do século XIX.

No futuro quero adquirir um globo mais singelo ou aos gomos para se coadunar com o design do candeeiro.

Recentemente publicamos um artigo sobre esta época e em que focamos o papel do Imperador Napoleão III (1808-1873) ao propagar este gosto. Esta tendência manifestou-se na arquitetura, na decoração interior, no mobiliário e no desenho de luminária, como podemos constatar em Lisboa na original Sala de Marmore do Palácio Nacional da Ajuda. O artigo está disponível no seguinte link:






Seguem as fotografias do candeeiro.




O candeeiro antes do restauro, a entrada para a chave e o queimador.








As peças desmontadas antes da limpeza e o reservatório.




As aberturas do reservatório feitas para o mecanismo poder ter sido colocado.




O candeeiro com o globo Baccarat do dragão.




A base com as liras e a chave para dar à corda.








A galeria e o queimador.