quarta-feira, 29 de junho de 2016

Candeeiro Wild & Wessel com abat-jour em seda



O abat-jour para o candeeiro Wild & Wessel, anteriormente apresentado, foi inspirado nos catálogos do final do século XIX e início do XX.

No período mencionado usavam-se vários tipos de laços e de rendas. Nestas realizaram-se motivos de flores, de estilizações diversas e de motivos geométricos, entre muitos outros. A nível de motivos geométricos houve uma predileção especial pelas riscas, consoante a sua espessura e cor. Este motivo sempre foi um dos meus prediletos, daí ter fixado na minha mente os abat-jours onde foi utilizado.

Na altura quando vi o candeeiro à venda e reparei no suporte, num átimo lembrei-me de um abat-jour no catálogo da Wild & Wessel para o ano de 1902/1903. O abat-jour proposto teria um véu exterior com riscas, espaçadas umas das outras e com intervalos diferentes. A parte superior seria com o tecido pregueado, unidos ao centro e com o topo coberto com folhos.

No catálogo da L. Löwenbach, para o ano de 1897 a 1898, há pelo menos três modelos com abat-jours em tecido. Dois deles têm os véus exteriores com riscas e no mesmo género que o anterior. O primeiro tem riscas, topo pregueado, um laço duplo e folhos no topo. O segundo tem riscas com vários espaçamentos, topo pregueado, um remate de folhos e mais folhos no topo. Os candeeiros têm colunas, peças metálicas conjugadas com pedras, reservatórios em vidro e capitéis jónicos ou coríntios.

O abat-jour da Wild & Wessel e os da L. Löwenbach têm parecenças, daí me ter inspirado nos dois primeiros.

O primeiro passo foi comprar arame inoxidável e fita de nastro, para começar a fazer a armação do abat-jour. O diâmetro escolhido foi 35cm, visto ser o ideal para o candeeiro, por uma questão de equilíbrio entre as proporções. Depois de feita a armação foi a vez de se escolher a cor principal. O amarelo foi logo escolhido. Esta é uma das minhas cores favoritas, além de se conjugar com as cores do candeeiro. Na mesma altura tive acesso a três abat-jours antigos, no decurso da minha investigação sobre os candeeiros da Casa Real portuguesa. Um dos abat-jours é em seda amarela, com rendas em castanho, fita cor-de-rosa e folhos nesta última cor. Gostei tanto desta conjugação que me deixei levar.

O próximo passo foi comprar seda nas lojas da baixa de Lisboa. Encontrei uma seda com um tom amarelo, a puxar para o dourado, e outra num tom cor-de-rosa. Estes dois tons eram quase os mesmos do abat-jour antigo. Depois de forrar o topo e coroamento do quebra-luz surgiu outra dificuldade. A dificuldade era encontrar um tecido quase transparente, riscas com intervalo diferentes para o véu e cujos tons conjugassem com a seda escolhida. Foi uma tarefa difícil e no fim encontrei um tecido compatível. É em algodão e seda, com riscas cor-de-rosa e amarelas. Cortaram-se tiras deste tecido e coseram-se com a seda cor-de-rosa. O efeito era bonito mas, quando o véu foi cosido ao abat-jour ficou um desastre. A situação piorou ao constatar que o cor-de-rosa escolhido não conjugava com o candeeiro. Esta foi uma daquelas situações em que não pensei no resultado final.

O véu exterior foi descosido e teve que se repensar tudo de novo.

Para terminar o abat-jour optou-se por ficar o amarelo escolhido e conjuga-lo só com branco. O branco estaria no véu exterior, no laço e nos folhos do topo. A opção por estas duas cores pareceu ser a acertada, por causa dos tons escuros do candeeiro, além de se complementarem entre si.

A próxima dificuldade era encontrar um tecido que fosse em seda, com riscas, que tivesse branco e o mesmo amarelo que a seda. Felizmente a sorte esteve do nosso lado e na internet estava à venda uma écharpe, nos tons desejados. Mandou-se vir a écharpe, cortou-se um bocado, coseu-se a restante e ofereceu-se.

Este véu foi a escolha acertada para terminar o abat-jour. Por baixo utilizamos um segundo véu, da mesma seda amarela, e com as pontas cortas em ziguezague como era comum na altura.

O topo foi decorado com folhos de seda, com as pontas também cortadas em ziguezague.

Depois de tudo cosido foi a vez de escolher a fita em seda. A largura foi de 3,5cm e tivemos que a mandar vir pela internet, porque nas retrosarias de Lisboa já não se vendem fitas de seda.

Atamos a fita e demos duas voltas.

O abat-jour ficou assim terminado.

Quando o candeeiro está aceso o tom amarelo da chama é intensificado pela seda, além de ter uma mancha de cor suave e muito agradável à vista.





Abat-jour proposto no catálogo da Wild & Wessel para o ano de 1902/1903, canto superior e o segundo a contar da direita. O modelo do candeeiro é o seguinte: 3276 (serpentinstein), 3277 (pedra em tons de vermelho), 3278 (ónix do Brasil) e todos com peças metálicas em bronze.





Candeeiros de coluna para petróleo comercializados pela L. Löwenbach, no catálogo de 1897/1898.




O candeeiro, duas perspetivas.





O abat-jour e a relação com o queimador. Nos catálogos observamos que quase sempre o queimador fica camuflado, só sendo visível nos pontos onde os tecidos estão elevados. O topo é forrado duas vezes para permitir uma diferenciação de luz, além de os véus terem maior luminosidade.




O candeeiro aceso, quatro perspetivas.