O abat-jour para o candeeiro Wild & Wessel, anteriormente
apresentado, foi inspirado nos catálogos do final do século XIX e início do XX.
No período
mencionado usavam-se vários tipos de laços e de rendas. Nestas realizaram-se motivos
de flores, de estilizações diversas e de motivos geométricos, entre muitos
outros. A nível de motivos geométricos houve uma predileção especial pelas
riscas, consoante a sua espessura e cor. Este motivo sempre foi um dos meus
prediletos, daí ter fixado na minha mente os abat-jours onde foi utilizado.
Na altura
quando vi o candeeiro à venda e reparei no suporte, num átimo lembrei-me de um abat-jour no catálogo da Wild & Wessel para o ano de
1902/1903. O abat-jour proposto teria
um véu exterior com riscas, espaçadas umas das outras e com intervalos
diferentes. A parte superior seria com o tecido pregueado, unidos ao centro e
com o topo coberto com folhos.
No catálogo
da L. Löwenbach, para o ano de 1897 a
1898, há pelo menos três modelos com abat-jours
em tecido. Dois deles têm os véus exteriores com riscas e no mesmo género que o
anterior. O primeiro tem riscas, topo pregueado, um laço duplo e folhos no
topo. O segundo tem riscas com vários espaçamentos, topo pregueado, um remate de
folhos e mais folhos no topo. Os candeeiros têm colunas, peças metálicas
conjugadas com pedras, reservatórios em vidro e capitéis jónicos ou coríntios.
O abat-jour da Wild & Wessel e os da L.
Löwenbach têm parecenças, daí me ter inspirado nos dois primeiros.
O primeiro
passo foi comprar arame inoxidável e fita de nastro, para começar a fazer a
armação do abat-jour. O diâmetro escolhido
foi 35cm, visto ser o ideal para o candeeiro, por uma questão de equilíbrio entre
as proporções. Depois de feita a armação foi a vez de se escolher a cor
principal. O amarelo foi logo escolhido. Esta é uma das minhas cores favoritas,
além de se conjugar com as cores do candeeiro. Na mesma altura tive acesso a
três abat-jours antigos, no decurso
da minha investigação sobre os candeeiros da Casa Real portuguesa. Um dos abat-jours é em seda amarela, com rendas
em castanho, fita cor-de-rosa e folhos nesta última cor. Gostei tanto desta
conjugação que me deixei levar.
O próximo
passo foi comprar seda nas lojas da baixa de Lisboa. Encontrei uma seda com um
tom amarelo, a puxar para o dourado, e outra num tom cor-de-rosa. Estes dois
tons eram quase os mesmos do abat-jour
antigo. Depois de forrar o topo e coroamento do quebra-luz surgiu outra
dificuldade. A dificuldade era encontrar um tecido quase transparente, riscas com
intervalo diferentes para o véu e cujos tons conjugassem com a seda escolhida. Foi
uma tarefa difícil e no fim encontrei um tecido compatível. É em algodão e
seda, com riscas cor-de-rosa e amarelas. Cortaram-se tiras deste tecido e coseram-se
com a seda cor-de-rosa. O efeito era bonito mas, quando o véu foi cosido ao abat-jour ficou um desastre. A situação
piorou ao constatar que o cor-de-rosa escolhido não conjugava com o candeeiro. Esta
foi uma daquelas situações em que não pensei no resultado final.
O véu exterior
foi descosido e teve que se repensar tudo de novo.
Para terminar
o abat-jour optou-se por ficar o
amarelo escolhido e conjuga-lo só com branco. O branco estaria no véu exterior,
no laço e nos folhos do topo. A opção por estas duas cores pareceu ser a
acertada, por causa dos tons escuros do candeeiro, além de se complementarem
entre si.
A próxima
dificuldade era encontrar um tecido que fosse em seda, com riscas, que tivesse
branco e o mesmo amarelo que a seda. Felizmente a sorte esteve do nosso lado e
na internet estava à venda uma écharpe,
nos tons desejados. Mandou-se vir a écharpe,
cortou-se um bocado, coseu-se a restante e ofereceu-se.
Este véu
foi a escolha acertada para terminar o abat-jour.
Por baixo utilizamos um segundo véu, da mesma seda amarela, e com as pontas
cortas em ziguezague como era comum na altura.
O topo
foi decorado com folhos de seda, com as pontas também cortadas em ziguezague.
Depois de
tudo cosido foi a vez de escolher a fita em seda. A largura foi de 3,5cm e
tivemos que a mandar vir pela internet, porque nas retrosarias de Lisboa já não
se vendem fitas de seda.
Atamos a
fita e demos duas voltas.
O abat-jour ficou assim terminado.
Quando o
candeeiro está aceso o tom amarelo da chama é intensificado pela seda, além de
ter uma mancha de cor suave e muito agradável à vista.
Abat-jour proposto no catálogo da Wild &
Wessel para o ano de 1902/1903, canto superior e o segundo a contar da
direita. O modelo do
candeeiro é o seguinte: 3276 (serpentinstein), 3277 (pedra em tons de vermelho), 3278 (ónix do Brasil) e todos com
peças metálicas em bronze.
Candeeiros
de coluna para petróleo comercializados pela L. Löwenbach, no catálogo de 1897/1898.
O candeeiro,
duas perspetivas.
O abat-jour e a relação com o queimador. Nos
catálogos observamos que quase sempre o queimador fica camuflado, só sendo visível
nos pontos onde os tecidos estão elevados. O topo é forrado duas vezes para
permitir uma diferenciação de luz, além de os véus terem maior luminosidade.
O candeeiro
aceso, quatro perspetivas.
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