No ano
passado andava a fazer pesquisas em sites de leiloeiras e deparei-me com este
candeeiro. Tinha ido três vezes à praça e não foi licitado. Telefonei à leiloeira
e perguntei se estava disponível, a resposta foi afirmativa e propuseram-me uma
oferta. Telefonaram-me
nesse mesmo dia a informar que o valor tinha sido aceite e que eu podia ir
levantar o candeeiro.
Na fotografia
disponível online vi que o candeeiro
era provavelmente da manufatura parisiense Joseph
Schlossmacher e do tipo Carcel.
Estava bastante sujo, eletrificado, com uma camada de verniz de má qualidade e
tinha em falta a chave para dar à corda.
No dia em
que o levantei confirmei todas as minhas suposições e retirei logo o casquilho,
o fio elétrico e uma haste metálica do interior. Verifiquei também que o
candeeiro não tinha sido danificado durante o processo de eletrificação e que
tinha sobrevivido, no seu interior, o sistema de relojoeiro para bombear o óleo
vegetal.
Não imaginam
como fiquei feliz por deter um Carcel
intacto e ainda por cima de uma das minhas manufaturas preferidas.
O primeiro
passo foi limpar, desenroscar o queimador e tentar abrir a tampa na base. Esta
é soldada ao reservatório e não a consegui retirar. Não vou estragá-la e
prefiro que seja um técnico de confiança a abrir a tampa, para poder
desenroscar e limpar o mecanismo, a bomba e o reservatório. As restantes peças
foram desmontadas, lavadas, secas e polidas.
O mecanismo
de relógio é da afamada Maison Renauld
Legrand Aîné de Paris.
No Natal
consegui adquirir uma chave antiga de relógio para poder dar à corda.
O candeeiro não
está em funcionamento e espero que esteja ainda este ano.
O candeeiro
tem uma base quadrangular, com quatro pés e em cada um há uma lira. Nas faces
tem recortes, caneluras e estilizações. Sobre esta base assenta uma taça, onde
há o buraco para a chave, e um aro metálico com caneluras em alto-relevo. Deste
elegantemente ascende na vertical um cone, com outro aro e canelado a meio, que
culmina no gargalo. A galeria tem motivos sóbrios vazados e o queimador é em
metal prateado, requinte invulgar neste tipo de candeeiros.
Este candeeiro
é de grande qualidade técnica e estilística, exemplificativa dos produtos
manufaturados pela Joseph Schlossmacher
e que era uma das mais prestigiantes em Paris.
As linhas
são elegantes e parecem ter sido inspiradas em vasos gregos antigos, mas é
sobretudo um testemunho de um período em que o gosto greco-romano esteve em
voga no final da década de 50 até à de 70 do século XIX.
No futuro
quero adquirir um globo mais singelo ou aos gomos para se coadunar com o design do candeeiro.
Recentemente
publicamos um artigo sobre esta época e em que focamos o papel do Imperador
Napoleão III (1808-1873) ao propagar este gosto. Esta tendência manifestou-se
na arquitetura, na decoração interior, no mobiliário e no desenho de luminária,
como podemos constatar em Lisboa na original Sala de Marmore do Palácio Nacional da Ajuda. O artigo está
disponível no seguinte link:
Seguem
as fotografias do candeeiro.
O candeeiro
antes do restauro, a entrada para a chave e o queimador.
As peças
desmontadas antes da limpeza e o reservatório.
As aberturas
do reservatório feitas para o mecanismo poder ter sido colocado.
O candeeiro
com o globo Baccarat do dragão.
A base
com as liras e a chave para dar à corda.
A galeria
e o queimador.
Antes de mais, os meus parabéns, pelos mais variados motivos, por esta página, António.
ResponderEliminarAcabo de a visitar, porém, por um motivo funesto: acabo de partir um candeeiro a petróleo, muito desolando a quem este pertencia. Será que me poderia dar um ou outro conselho, gostaria de saber se teria, de todo solução. Ficar-lhe muito grato, se porventura tivesse disponibilidade, de trocar umas breves palavras consigo.
Antecipadamente grato,
Eduardo Figueiredo
(calheiros.figueiredo@gmail.com)
Caro Eduardo Figueiredo
EliminarPoderá ter solução e por isso já lhe enviei um email.
Cumprimentos
António Cota