No passado
dia 29 de Abril do corrente ano fui à feira e tinha como intuito comprar livros
da Colecção Vampiro. O senhor que os
vende não foi e lembrei-me que na semana passada tinha visto um queimador Kosmos da Wild & Wessel. O queimador é tamanho 14 e tem falta do aro
metálico para pousar o abat-jour. Não
o quis comprar e lembrei-me de que fazem sempre falta peças sobresselentes. Fui
procurar o vendedor e também nesse dia não foi à feira. Efetivamente faltaram
uns quantos feirantes porque a previsão era de chuva. Ao deambular pelos
restantes feirantes dei de frente com um candeeiro que me chamou de imediato a
atenção. O instinto disse-me logo que era um Wild & Wessel. Andei para a banca onde estava e desmontei todas
as peças. O abat-jour em boa
condição, a chaminé é inapropriada, o queimador está em bom estado e completo
mas, pintado em purpurina, e o candeeiro encontra-se em belíssimas condições.
Peguei logo nele e identifiquei-o como sendo da referida manufatura, tem o
número 1409 e um losango em altos-relevos. Este losango é um registo britânico
com a classe, o dia, o mês e o ano de fabrico da peça. Este registo indica que
o candeeiro foi fabricado antes de 1883 ou nesse ano (infelizmente os traços
estão quase impercetíveis e não podemos averiguar ainda o ano de fabrico). Este
registo poderá indicar que o candeeiro foi fabricado para o mercado britânico
ou para um retalhista (por exemplo os armazéns britânicos abertos na cidade de
Paris, como a Maple & Cº Ltd.). Perguntei
o preço e comentei que o queimador estava pintado de dourado, tinha sido
reparado (realmente as três bases do aro do abat-jour
foram reparadas) e retirei-me. Pensei duas vezes: ou pago o preço que ele me
pediu ou faço uma oferta aceitável. Optei por esta segunda via e o vendedor
imediatamente embrulhou devidamente o candeeiro.
O candeeiro é
exemplificativo do período posterior a 1870. A partir desta data a Wild & Wessel, entre outras
manufaturas alemãs, foram buscar inspiração ao período barroco germânico.
Começaram então a produzir diversos candeeiros, peças decorativas e outros
objetos em bronze, em latão e em zinco. Esta última liga é barata, é maleável e
de fácil modelagem. Foi a preferida para se produzirem diversas peças baratas
para o público. Na Alemanha eram denominadas Zink. Em Portugal nos velhos recibos e outra documentação também
eram designados por zinco. Nos mercados e lojas temos verificado que são
designados por bronze de arte ou liga de estanho/antimónio. Não temos ainda a
certeza se estas designações são corretas. A primeira parece-nos forçada e
pretensiosa, visto estes objetos terem sido produzidos às centenas e milhares.
Na altura o preço do bronze e do latão, para produzir este tipo de candeeiros,
era elevado.
O candeeiro
é pequeno, tem uma boa proporção e é um deleite para os olhos.
A forma e as
peças indicam que é um candeeiro jarra. Esta designação é a mesma que se
empregava na Alemanha, na França, no Reino Unido e no nosso país.
A forma
parece um jarra ou um cálice, tem duas pegas laterais e uma tampa, com o
reservatório colado.
A base é
redonda e tem folhas de acanto e outros motivos. Desta partem várias peças
decoradas, com estilização semelhantes, e soldadas.
A jarra em
si tem duas molduras estilizadas e no topo pendem fitas e grinaldas de flores
(na maioria rosas). Estas caem em cachos e vários putus seguram-nas. Numa das faces estão três putus com as grinaldas de flores, dois dele têm cachos de uvas e um
terceiro tenta tirar alguns bagos, talvez uma alusão ao fim do Verão ou Outono.
Na outra face os putus têm: um segura
uma flecha e tem uma aljava com setas; outro tem duas pandeiretas ou pratos e o
último tem uma tocha acesa. Esta composição alude ao amor, à festividade e à
chama.
As duas
pegas laterais são encimadas por cabeças de carneiro, com estilizações em
redor.
A tampa
do reservatório tem também folhas de acanto estilizadas. O reservatório é em
vidro transparente e tem forma cilíndrica.
O
queimador é Kosmos, tamanho 10 e tem
três suportes para sustentar o aro do abat-jour.
O abat-jour é em vidro opaco branco e é
muito provavelmente o original. A mesma forma e a proporção é semelhante aos
que foram fabricados pela manufatura.
O
primeiro passo foi limpar devidamente, remover a tinta e polir o queimador.
O
segundo foi optar pelo restauro do candeeiro. Este tipo de candeeiros tinham
uma camada superficial de cobre, que era a original, e ainda tem vestígios. Com
o tempo a liga metálica à base de zinco oxida e a camada desaparece. Optei por
pintar com tinta (tom ouro velho escurecido) o candeeiro e uma camada escura
por cima. O resultado foi péssimo. Removi tudo e deixei o candeeiro sem camada
nenhuma de tinta. De futuro espero ponderar por outra solução.
O candeeiro,
três perspetivas.
A base
do candeeiro.
As duas
faces do candeeiro e um detalhe da antiga camada de cobre.
As pegas
laterais que terminam nas cabeças de carneiro.
O reservatório
e a jarra separados.
O reservatório.
O queimador.
Estampa número
19 do catálogo comemorativo dos 50 anos da Wild
& Wessel, publicado em 1894 em Berlim. Os candeeiros são em zinco, têm
semelhanças ao que é aqui apresentado e foram fabricados de 1870 a 1880.
O candeeiro
aceso.
A MELHOR SOLUÇÃO É DEIXA-LO ASSIM COMO ESTÁ SEM PINTAR FICA LINDO COM TODOS OS VESTÍGIOS DO COBRE.
ResponderEliminarObrigado, sim, neste caso foi preferível ficar como está e realçar os tons cinzentos do metal.
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