No século
XIX fabricaram-se variados tipos de candeeiros portáteis em vidro, em metal e em
cerâmica, entre outros materiais. Estes têm geralmente uma haste concêntrica
com pega no topo, concebidos para secretária, ou uma pega lateral, para serem
transportados de um lado para o outro. Foram construídos de acordo com um
sistema para um determinado combustível e o respetivo queimador. Desta forma
otimiza-se a intensidade da luz e que pode ser controlada, ou não, por um
quebra-luz. A luminosidade e o seu direcionamento visam determinadas
funcionalidades que são: a de iluminar uma superfície plana de acordo com o
quebra-luz empregue; a de iluminar a área circundante ao foco de luz; a de
iluminar numa determinada direção, de acordo com uma peça colocada
especificamente no queimador, de forma cónica e de material reluzente, entre
outras funcionalidades. Outra constatação é o seu fácil manuseamento que deriva
da construção, do uso dos materiais e de outras características, facilitando
assim a vida quotidiana.
O candeeiro
que vos apresento é em porcelana da manufatura alemã Rauenstein, então sediada na aldeia homónima na região da Turíngia,
e foi fundada a 3 de Março de 1783 pelos irmãos Greiner, Johann Georg, Johann
Friedrich e Christian Daniel Sigmund, num castelo, então pertencente ao Duque Jorge
I, duque de Saxe-Meiningen (1761-1803). Nesta aldeia houve todas as condições
favoráveis para o seu rápido desenvolvimento: mão-de-obra; matéria-prima e madeira
para os fornos. No ano de 1794 empregava já 174 trabalhadores e a produção
inicial concentrou-se em serviços para bebidas quentes, cujas formas e motivos
foram inspirados nos congéneres fabricados pela prestigiante manufatura de Meissen. No entanto as peças produzidas
pela Rauenstein são em porcelana mais
grossa e com uma pintura menos cuidada, daí a sua popularidade e a proliferação
para outros países como a Rússia, a Dinamarca, a Suécia e a Holanda. Em 1823
exportava para vários estados alemães, para a Bélgica, para a Áustria e para a
Letónia.
No ano de
1849, após a morte dos três irmãos fundadores, as acções foram vendidas ao
comerciante Georg Heinrich Wirth, cujo filho Ernst Wilhelm Georgii assumiu a
direcção e apostou em novos produtos. O sucesso foi garantido e em 1881 a
manufatura era dirigida por Franklyn Georgii.
No ano de
1893 lançaram no mercado várias peças decoradas ao gosto das de Delft, situação
que desagradou aos holandeses e que a processaram sem sucesso por plágio.
No ano de
1906 empregava 650 trabalhadores e produzia uma vasta gama de produtos. Tinha
representantes em Londres, em Bruxelas, em Roermond, em Paris, em Berlim e em
Hamburgo, todavia entra em declínio devido à concorrência.
Encerrou em
1930 e as instalações foram desmanteladas.
No candeeiro
há as seguintes marcas:
- duas
espadas cruzadas e R N, referente ao
período de 1850 a 1897;
- numeração 121 incisa na pasta.
Podemos
então concluir que este exemplar foi fabricado entre 1893 a 1897.
A forma é a de
um paralelepípedo e tem nas quatro faces altos-relevos ao gosto rocaille. Estes são uma cercadura que
envolvem a superfície rectangular, de forma a deixar livre o centro para poder
ser, ou não, preenchido com pintura. Nas quatro extremidades e em ângulo há quatro
pés, encimados cada um por uma superfície ovalada e envolta por ornatos. Numa
das extremidades do topo tem uma pega bipartida e assimétrica no mesmo gosto.
As cercaduras,
os pés e a pega foram realçados com pintura em tons de azul, como se fosse um
pontilhado.
Nas quatro
faces foram pintadas cenas à beira de água e que são:
- duas
iguais de um moinho holandês, com dois andares, uma árvore e vegetação à beira
de uma margem. Na água está, em segundo plano, um barco à vela. Toda esta
composição é encimada por nuvens e três aves a esvoaçarem;
- as restantes
têm cada uma três barcos à vela, em planos diferentes, encimados também por
nuvens e por três aves.
Toda esta
pintura foi feita à mão e reflete o gosto pela louça de Delft. O pontilhado, as
cenas à beira de água e a delicadeza do traço revelam qualidade e
expressividade.
Este tipo de
candeeiro é denominado por Boudoirlampe,
que significa candeeiro para boudoir
ou aposento, nos catálogos alemães do final do século XIX e início do século XX.
Por exemplo no da Schubert & Sorge,
de 1897 a 1898, este candeeiro sem pega, queimador Kosmos no tamanho 8, respetiva chaminé, aranha para globo em latão
e globo pintado tinha o custo de 3.50ℳ.
O queimador
enroscado é um Kosmos, no tamanho 8,
da manufatura berlinense Schwintzer &
Gräff. No botão do regulador da torcida tem em alto-relevo o seguinte: PRIMA RUNDBRENNER, que significa
queimador fino para arredondar. No tardoz tem a sigla S & G referente à manufatura.
Não veio com
nenhuma galeria ou suporte para quebra-luz.
Na cidade de
Lisboa havia pelo menos um candeeiro deste género e mais não digo.
O candeeiro,
duas perspetivas.
As quatro
faces do candeeiro e respetivas cenas.
Pormenores
do candeeiro.
As marcas
da manufatura na porcelana.
O queimador
Kosmos da Schwintzer & Gräff.
Detalhes
do queimador.
O mesmo
modelo, sem pega lateral, no catálogo de 1897/1898 da Schubert & Sorge.
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