Os candeeiros
denominados Gone With the Wind foram
produzidos no final do século XIX e início do XX em pelo menos três manufaturas
americanas. Anacronicamente fizeram parte dos adereços do filme Gone With The Wind (E Tudo o Vento Levou) em 1939. O período cronológico do filme
começa dias antes de ser anunciada a Guerra Civil (que começou no dia 12 de
Abril de 1861 e terminou a 9 de Maio de 1865) até à década de 70 do século XIX.
O filme teve um sucesso estrondoso e ficou até hoje a designação para este tipo
de candeeiros.
Chegada da
família O'Hara à plantação Twelve Oaks.
Os actores são da esquerda para a direita: Vivien Leigh, Evelyn Keyes, Alicia
Rhett, Ann Rutherford e Howard C. Hickman
(de costas).
Ilustração
retirada do seguinte link:
Serão à luz
do candeeiro para petróleo. As atrizes são da esquerda para a direita: Vivien
Leigh, Hattie McDaniel, Olivia de Havilland, Leona Roberts e Alicia Rhett.
Ilustração
retirada do seguinte link:
Outra perspetiva
do serão. As mesmas atrizes exceto Hattie
McDaniel.
Ilustração
retirada do seguinte link:
Efetivamente
estes candeeiros evoluíram dos denominados vase
ou parlor lamps (candeeiro jarra ou
para sala, como eram chamados em Portugal), que começaram a aparecer no mercado
americano por volta de 1875.
A principal
característica é o reservatório ficar camuflado e ser amovível, de forma a
facilitar a sua limpeza e abastecimento. Este fica escondido por um corpo
exterior em vidro, geralmente decorado com pinturas ou saliências. O globo
combinava com esta peça, enriquecendo o conjunto.
Parte do catálogo
dos Armazéns Silber & Fleming,
Londres, 1885 a 1898, página 237. Os candeeiros são em vidro, da Boémia, com
vários queimadores e quebra-luzes. São todos designados como Vase Lamp.
Na década de
90 do século XIX este tipo de candeeiros adquirem certas especificidades. As
dimensões aumentam, as cores são variadas, as peças metálicas são compatíveis com
as de vidro, havendo por isso trocas entre as diferentes manufaturas. Os
reservatórios aumentam de tamanho, os queimadores têm maior capacidade de luz e
são de corrente de ar central.
As
principais manufaturas que se dedicaram ao seu fabrico foram a Fostoria Glass Company, a Consolidated
Lamp and Glass Company
e a Pittsburgh Lamp, Brass & Glass
Company.
A
primeira foi fundada a 15 de Dezembro de 1887 na cidade de Fostoria, estado de
Ohio. Os primeiros proprietários foram Lucian B. Martin e William S. Brady. Poucos
anos depois mudaram a sede e instalações fabris, em 1891, para Moundsville, estado
de West Virginia.
Foi uma
das maiores fábricas de vidro americanas. Produziram peças em vidro moldado,
prensado e soprado. Fabricaram serviços para mesa, peças decorativas,
candeeiros para petróleo, para gás e para eletricidade.
Nos candeeiros
o reservatório e queimador eram marcados Royal
e Fostoria.
No catálogo
de 1904 mencionam que as pinturas sobre vidro eram obtidas a fogo, daí a sua
durabilidade e elevada qualidade de fabrico.
Encerrou
em 1986.
Vista
parcial das instalações fabris da Fostoria
Glass Company.
Ilustração
retirada do seguinte link:
Parte do
catálogo de 1904 da Fostoria Glass
Company. Na primeira imagem são candeeiros para petróleo, candeeiros para gás,
jarras e a sala de exposição em Chicago (808 Masonic Temple, este arranha céus
foi considerado o mais alto da cidade até 1899).
A segunda teve
origem na fusão entre a Fostoria Shade
& Lamp Company, de Ohio, e a Wallace
and McAfee Company, de Pittsburgh, em 1894. A primeira sede foi em Ohio
mas, após um incêndio em 1895 mudaram-se para Coraopolis, estado de Pennsylvania.
Os fundadores foram F. G. Wallace, Hugh McAfee, Charles H. Dean, J. B. Graham
(secretário), Joseph G. Walter (tesoureiro) e Nicholas Kopp (gerente). A sede
era em Pittsburgh.
Inicialmente
a produção incidiu em: peças para candeeiros; quebra-luzes; globos; jarras;
fruteiros; peças para binóculos; cache pots; serviços de mesa (para refresco,
para condimentos, para legumes, para mel e melaço) e serviços para toilette.
No catálogo
de 1901 informam-nos que as decorações eram na sua maioria pintadas à mão. Consideravam-se
os maiores especialistas em cores, nomeadamente o famoso cerise. Os candeeiros tinham um reservatório, queimador e
espalhador marcados Royal e Consolidated.
Os candeeiros para petróleo geralmente tinham peças fabricadas pela Plume & Atwood Manufacturing Company.
Os candeeiros para petróleo geralmente tinham peças fabricadas pela Plume & Atwood Manufacturing Company.
O químico
Nicholas Kopp introduziu o vidro iridescente e o royal copper, que tinha sido apresentado na Exposição Universal de
Chicago em 1893.
Em 1910
empregava mais de 400 trabalhadores, tornando-se na maior manufatura de
luminária americana.
Na década de
20 enveredam pelo vidro decorativo, após terem participado em L’Exposition internationale des arts
décoratifs et industriels modernes, em 1925 na cidade de Paris. Deram assim
início à produção de vidro americano ao gosto Art Deco.
A manufatura
fechou em 1933 devido à Grande Depressão.
Fases no
processo de fabrico de um candeeiro.
Folheto com
várias peças fabricadas pela Consolidated Lamp and Glass Company, anterior a 1899. No topo são
leiteiras, galheteiros, taças, manteigueiras e açucareiros, entre outras peças
para servir à mesa. No canto superior esquerdo o serviço é na cor cerise. Em baixo são globos e candeeiros
para petróleo.
.
Ilustração
retirada do seguinte link:
Instalações
fabris e jarros para xarope no catálogo de 1894.
Variados
tipos de candeeiros para petróleo que são do tipo: de torcida plana (uma
imagem), de corrente de ar central (três imagens) e para luz de presença ou de
noite (uma imagem).
A terceira e
última manufactura foi originalmente fundada como Kopp Glass, em 1900, pelo referido químico Nicholas Kopp. Logo no
ano a seguir Kopp consegue reunir novos sócios e funda a Pittsburgh
Lamp, Brass & Glass Company,
também conhecida pela abreviatura Pilabrasgo.
Nicholas
Kopp foi um dos mais importantes químicos na indústria do vidro. Desenvolveu
vários tons de vidro, entre eles o denominado Selenium Red Glass, de tom avermelhado e de baixo custo na sua
produção. Este vidro foi também usado nos sinais de tráfego ferroviários. Nos
dias de hoje ainda é utilizado mundialmente nos sinais de trânsito rodoviário e
aéreo.
O sucesso
foi enorme e a manufatura absorve, em 1903, a Dithridge Company, fundada em 1863. A partir desse ano a manufatura
passa a ter três unidades fabris, uma em Pittsburgh, outra em Swissvale e a
terceira em Jeannette, todas no estado de Pennsylvania.
Tinham salas
de exposição em Nova Iorque, Philadelphia, Boston, Baltimore, Chicago, San
Francisco, St. Louis e Kansas. No Canadá era na cidade de London, Ontário.
Os candeeiros
para petróleo têm reservatórios, queimadores e espalhadores marcados Success.
A
manufactura abre falência em 1926. Nicholas Kopp no mesmo ano funda a Kopp Glass Incorporation, que ainda hoje
existe. Dedicam-se a sinais de trânsito e outro tipo de peças em vidro.
As três
unidades fabris da Pittsburgh Lamp, Brass & Glass
Company, representadas
em 1916 no catálogo da manufatura.
Anúncio
publicitário aos candeeiros da manufatura. Publicado em 1905 no catálogo dos
armazéns Gray & Dudley, Nashville,
Birmingham. Ilustração retirada da internet.
Candeeiro com
o motivo Sheiks of the Desert.
Ilustração retirada da internet.
Candeeiro com
o motivo Great Horned Owls, infelizmente
eletrificado. Ilustração retirada da internet.
Parte do catálogo
de 1916 com variados designs para
candeeiros elétricos e seus usos. No catálogo ainda eram fabricados candeeiros
para gás e para petróleo, como os que foram reproduzidos na quarta imagem.
A produção deste
tipo de candeeiros é distinta entre as três manufaturas. O seu fabrico
prolongou-se sensivelmente até ao ano de 1920. Produziram variados designs e que foram:
- motivos
padronizados salientes de flores, de cachos de uva ou caras de querubins.
Geralmente numa cor sólida, havendo exemplares em várias cores, com acabamento
fosco ou brilhante, em vidro opaco ou transparente;
-
composições florais polícromas sobre fundo colorido. Estes são os mais
característicos do período;
- paisagens
campestres, com animais ou arquitectura, numa determinação estação do ano (o
Inverno foi uma estação muito recorrente);
- figuras
zoomórficas enquadradas por composições vegetalistas;
- figuras
humanas, na grande maioria femininas, também enquadradas pelo mesmo tipo de
composições.
São estes os
principais motivos recorrentemente utilizados.
Estes
candeeiros são profundamente americanos. Simbolizam o crescimento económico, o
fabrico em série, o consumo doméstico e o uso intensivo do petróleo como fonte
de iluminação.
Além da sua
função de iluminação, são peças sobretudo decorativas.
Candeeiro da
Fostoria Glass Company aceso, duas
perspectivas. Ilustrações retiradas da internet.
Estes
candeeiros são fáceis de se recuperarem. Os processos de eletrificação
geralmente não danificam as partes metálicas. O fio passa pelo tubo de ar
central e assenta no lugar do espalhador, que na maioria das vezes já não se
encontra com o candeeiro. O espalhador facilmente se encontra à venda, assim
como as chaminés apropriadas e as torcidas. O mais difícil é encontrar um
quebra-luz original e com o mesmo motivo que o corpo do candeeiro.
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