O grafismo
Arte Nova, de criação portuguesa, surge por volta de 1899 nas diferentes
publicações periódicas que existiam.
A renovação
estilística, em 1906, da famosa Illustração
Portugueza trouxe um vaporoso fôlego. Nela colaboraram designers gráficos
como M C Espis, Alonso, Santos-Silva e Cândido, entre outros. O cromatismo e
linhas sinuosas são evidentes nos dois exemplares abaixo.
Capa
da Illustração Portugueza, n.º 3 da,
datado de 12 de Março de 1906. As vestes moldam-se ao corpo sinuoso da figura
feminina. O erotismo é evidente, realçado pelos tons dourados e cinzentos. Colecção do autor.
Capa da
Illustração Portugueza n.º 34, datada
de 15 de Outubro de 1906. Na capa foram fotografados os deputados republicanos,
eleitos por Lisboa, nesse ano. Colecção do autor.
O desenvolvimento
da volumetria, nomeadamente na exploração do espaço e tirando partido de enquadramentos
exteriores. A adaptação ao terreno, pela topografia, e exposição solar são os
principais pontos de inovação patentes em muitos exemplares arquitectónicos.
Casa
da Pedreira, do arquitecto Raúl Lino da Silva em Sintra. Os espaços adaptam-se
ao terreno, de forma a tirar partido das vistas, harmoniosamente. Imagem
retirada do n.º 387 da revista Illustração
Portugueza, datada de 30 de Março de 1908. Colecção do autor.
O movimento
Arte Nova surge, em Portugal, na mesma altura que o da casa à portugueza, integrando-se notavelmente. A cultura nacional,
desprezada e desvalorizada durante o século XIX, ganha novo apreço, apoiada
pela aristocracia, pela burguesia emergente e pelos intelectuais.
No Alto
do Estoril, em 1907, o arquitecto Álvaro Augusto Machado projectou um conjunto
de moradias, para si e para o médico psiquiatra José Caetano de Sousa Pereira
de Lacerda. Este conjunto notável integra elementos da casa à portugueza, manipulação volumétrica original, uso de
materiais inovadores e azulejaria, da autoria do famoso pintor José António
Jorge Pinto.
O primeiro
projecto é a casa do referido médico. Esta moradia envolve-se
extraordinariamente num jardim, dividido em dois patamares. A entrada principal
fica recuada em relação ao muro, num pórtico, criando assim diferentes níveis
de privacidade até ao interior da habitação. O volume a Poente era o Jardim de
Inverno, infelizmente rebocado e fechado. O seu desenho arquitectónico tem
semelhanças com a arquitectura Arte Nova alemã e belga, onde se empregou o
tijolo sílico-calcário.
A fachada
principal projecta-se do corpo principal para o jardim, virada a Sul. No piso
térreo tem uma loggia, com arcos, o
escritório e um mirante com varanda. A assimetria é visível na disposição dos
vãos.
A manipulação
volumétrica é inovadora, fazendo deste exemplar um dos melhores edifícios deste
período.
Casa
Doutor José de Lacerta em 1910, duas perspectivas. Fotografias de Achilles publicadas na revista A Architectura Portugueza, n.º 6.
Na sala
de jantar o mobiliário foi desenhado por Álvaro Machado ao gosto Arte Nova. Na toalha
da mesa o padrão, provavelmente bordado, tem estilizações de flores Arte Nova. No
tecto podemos observar um candeeiro a gás. Fotografia de Achilles publicada na mesma revista e número anterior.
O Doutor
José Caetano de Sousa Pereira de Lacerda encomendou ao mesmo arquitecto o
projecto para um bairro. Num lote quadrangular foram propostas habitações do Typo 1, 2 e 3, só estas últimas foram construídas
e infelizmente foram descaracterizadas. Neste bairro, que se chama de Roseiras, o arquitecto explora a
volumetria de forma ordenada. Estas habitações destinavam-se a veraneantes e de
rendimento para o seu proprietário.
Habitações
do Typo 3 que foram construídas.
Fotografia de Achilles publicada na
revista A Architectura Portugueza, n.º
7.
O arquitecto
além desta encomenda construiu duas habitações para si. O projecto que deu
entrada, na Câmara Municipal de Cascais em 1907, difere da versão construída.
Num pequeno
lote Álvaro Machado agrupou as duas moradias simetricamente entre si, formando
um par, e os motivos da azulejaria contribuíam para uma assimetria. O avanço da
chaminé da cozinha, no alçado principal, cria uma ilusão de escala a estas duas
pequenas moradias.
Casas
Álvaro Machado em 1910, duas perspectivas. Fotografias de Achilles publicadas na revista A
Architectura Portugueza, n.º 7.
A arquitectura
foi realçada pelos singulares painéis em azulejo do pintor José António Jorge
Pinto, ao gosto Arte Nova. O pintor elaborou diversos padrões, figuras
estilizadas humanas e animais de grande qualidade plástica. Uma das moradias
infelizmente perdeu a maioria dos exemplares.
Padrões
em azulejo nas Casas Álvaro Machado, fotografias do autor datadas de 2010.
Na obra
do arquitecto encontramos um projecto anterior, datado de 1902, para a Casa Júlio
César de Mouta e Vasconcelos em Benfica, Lisboa.
A moradia
era composta por dois volumes, um horizontal no qual inclui um vertical. As
linhas modernas, sistema complexo de coberturas e outros pormenores, foram
aperfeiçoados nos projectos descritos anteriormente. O edifício não foi
construído, conforme se estabeleceu na investigação realizada em 2011.
Casa
Júlio César de Mouta e Vasconcelos, alçado principal, tardoz e lateral.
Na cidade
de Lisboa vamos encontrar outro projecto, de 1905, para a Senhora Dona Olympia
de Macedo Branco. A manipulação volumétrica, desenho arquitectónico sóbrio e
distribuição espacial interna eficaz foram habilmente conjugados pelo
arquitecto.
Casa
Senhora Dona Olympia de Macedo Branco.
Fotografia
de Paulo Guedes retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.
A moradia
foi construída num lote de gaveto, entre a Avenida da República e Visconde de
Valmor, no mesmo ano que a Casa Viscondessa de Valmor, projecto do arquitecto
Miguel Ventura Terra. As duas moradias têm semelhanças entre si. A entrada
principal funciona como uma antecâmara, cingida pelas fachadas e gradeamentos,
com a fachada principal a 45º em relação às laterais. Esta fachada estava
recuada em relação aos arruamentos, solução engenhosa, a qual cria uma eficaz
relação público/privado. Apesar destas semelhanças os dois projectos diferem em
muitos outros aspectos (distribuição espacial, relação com jardins, entre
outros), os quais foram abordados durante a dissertação de mestrado, realizada
em 2011 na Universidade Lusíada de Lisboa.
Casa
Viscondessa de Valmor. Os azulejos, ao gosto Arte Nova, têm ziguezagues e
estilizações de flores, os quais conferem ritmo.
Fotografia
de Paulo Guedes retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.
No interior
de um dos salões podemos observar a coexistência da luz eléctrica com gás, lado
direito, em 1909. Fotografia de Achilles
publicada na revista A Architectura
Portugueza, n.º 6 desse ano.
Na obra
do arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior as referências à Arte Nova são uma
constante neste período.
Na
casa e atelier do pintor José Vital
Branco Malhoa, em 1904, o arquitecto coordena quatro volumes entre si, de forma
admirável. O atelier, com galeria,
era o principal espaço desta moradia, evidenciado pelo grande janelão virado e
Norte e volume que o contém.
Casa e
atelier José Vital Branco Malhoa, que
obteve o Prémio Valmor de 1905.
Fotografia
de Paulo Guedes retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.
A
azulejaria, não é original da época de construção do edifício, e foi realizada
por José António Jorge Pinto. O pintor inspirou-se nas pinturas a fresco
originais ao executar estes exemplares, provavelmente em 1914, conforme foi
estabelecido durante o mestrado.
Nos edifícios
projectados por Manuel Joaquim Norte Júnior o recurso a pinturas a fresco, ao
gosto Arte Nova, pretendiam imitar o azulejo. O pintor Gabriel Constante
participou em algumas obras, nomeadamente na Casa Nuno Pereira de Oliveira, na
Praça Duque de Saldanha, em Lisboa. A moradia foi projectada em 1910, obtendo a
5ª Menção Honrosa do Prémio Valmor de 1912.
Casa Nuno
Pereira de Oliveira. As pinturas a fresco desapareceram.
Fotografia
de Joshua Benoliel retirada do site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.
O movimento
Arte Nova teve um papel de relevo em Portugal, como ficou exemplificado nestes
exemplares.
Na
próxima publicação iremos abordar um singular candeeiro a petróleo, deste período,
com um magnífico Matador Brenner 20´´´da
manufactura berlinense Ehrich & Graetz.
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