Numa
conhecida feira alentejana encontrei, no ano passado, dois candeeiros a
petróleo à venda, um opaline, com
queimador Kosmos, e outro em liga de
estanho e antimónio bastante elaborado e vistoso, igualmente com o mesmo tipo
de queimador. Após perguntar o preço, bastante elevado, desisti e nunca mais
olhei para eles.
O candeeiro
metálico ficou na minha cabeça, devido talvez à sua imponência e originalidade,
e eis que surge um mês depois na mesma feira para me seduzir mais ainda.
Os dois
candeeiros em Agosto de 2013 na feira.
O candeeiro
opaline não valia a pena por causa do preço, visto se encontrarem ocasionalmente
exemplares em feiras, leilões e lojas a preços mais baixos. O candeeiro
metálico tinha um certo je ne sais quoi
e lembrei-me imediatamente de algumas peças Wedgwood.
No mesmo dia fiquei com o contacto do vendedor para um dia me decidir.
O candeeiro
na feira.
Na mesma
altura surgiu em leilão um par de candeeiros em Lisboa, bronze dourado e
cerâmica, provavelmente alemães ou austríacos com queimadores Kosmos desiguais. O seu estado era mau,
mas todavia eram bastante interessantes e revelavam um certo gosto oriental. Os
queimadores estavam em mau estado, assim como o reservatório metálico de cada
um. O preço base era acessível, mas no decorrer das licitações atingiu uma
quantia elevada que não compensava o seu restauro.
As minhas
atenções voltaram-se de novo para o tal candeeiro da feira, mas o preço teria
forçosamente de descer visto o exemplar necessitar de profundos restauros.
Numa primeira
análise apontou-se os seguintes defeitos:
- a
tinta verde, horripilante e de mau gosto, estava gasta e tinha que ser
retirada;
- o queimador
da Hugo Schneider está irremediavelmente danificado e não era o original (ver a
publicação de 18 de Abril do corrente ano);
- o
reservatório não era o original em vidro moldado, mas sim em chumbo e ainda por
cima furado para electrificação;
- a
chaminé era a desadequada para o tipo de queimadores;
- o
globo era de mau gosto e não me seduzia.
Reflectindo
nestes pontos debati com o vendedor a descida do preço e finalmente consegui
adquiri-lo em Outubro de 2013.
O
primeiro passo, logo de imediato, foi retirar a tinta a qual veio a revelar uma
surpresa deveras encantadora.
O candeeiro
logo após a remoção da tinta.
A revelação
foi as peças estilizadas na taça, que camufla o reservatório, serem em latão e
conferem um toque de elegância greco-romano ao conjunto. Debaixo da tinta verde
pode-se ver o resto da patine original, cor de bronze escuro que o candeeiro
tinha. A taça, com os seus altos-relevos, ao gosto clássico e a adição das
peças em latão fizeram-me de repente optar por usar um Agni Brenner 20``` da Wild
& Wessel de Berlim que tinha de parte. A combinação é perfeita; o
cromatismo e proporção são as ideais. Em seguida levantaram-se outras questões:
-
deixar o candeeiro como está à cor natural;
- repor
a patine original em cor de bronze escuro;
-
pintar o candeeiro de preto fosco de forma a realçar as cores existentes nele.
Optei pela
terceira solução, novamente inspirado pelo Black
Basalt da famosa Wedgwood, a qual
ainda não foi posta em prática por ainda faltar restaurar uma das três peças em
latão.
Agni Brenner 20```posto no candeeiro, o espalhador está
incompleto visto faltar-lhe o chapeuzinho que permite uma chama mais
controlada. A galeria que veio com o candeeiro não é a adequada, visto
contribuir para uma certa desproporção entre as partes.
Peças
desmontadas do candeeiro.
Peças desmontadas
vista aproximada, duas perspectivas.
O reservatório
foi entretanto soldado, mas o original era em vidro colado com gesso à tampa
metálica. Debaixo da rosca do queimador, no interior do candeeiro, há o encaixe
para o gargalo do reservatório.
Após esta
primeira intervenção constatou-se mais outro pormenor que estava em falta: a
taça não tinha qualquer apoio em baixo e só lateral nas peças com as esculturas
femininas, através de parafusos. A falta desta peça contribuía para um certo
desequilíbrio e sobrecarregava as três esculturas referidas.
Taça sem
o reservatório, onde se nota a ausência da peça para equilibrar o conjunto. Umas
das peças estilizadas (lado direito) sofreu um restauro um tanto ou quanto
tosco, o qual ainda terá que ser refeito no futuro.
Esta peça
era essencial e de repente surgiu-me na cabeça usar uma peça em latão que
tivesse a mesma medida. O cromatismo era assim mais uma vez realçado e pus-me a
pensar na peça perfeita. Num saco cheio de latões encontrei uma peça em latão,
que se usa nas camas de ferro para unir o varão e a esfera, e experimentei no
candeeiro. A peça encaixava, tem o mesmo diâmetro e altura adequada como teria
sido a original. O primeiro passo foi mandar cortar a peça, polir e colocar no
candeeiro.
Peça em
latão cortada.
A peça
em latão cortada e polida no candeeiro, a qual encaixou perfeitamente.
Esta etapa
estava resolvida, mas ainda faltava outra muito mais complexa e importante:
espalhador original 20```completo para
o queimador Agni e a chaminé
específica.
O espalhador
milagrosamente surgiu num queimador, através de um site de vendas online português, num grande candeeiro opaline. O proprietário chegou a acordo
comigo e vendeu-me o queimador, mas a grelha está irremediavelmente danificada,
como se verá numa próxima publicação.
A chaminé
é muito difícil de se arranjar, mas ainda continuo à procura de uma, visto ter
uma forma bastante invulgar.
O queimador
Agni 20```completo.
O candeeiro
aos poucos foi adquirindo a identidade perdida, mas mesmo assim faltava uma
galeria para o globo de 10cm de abertura, que estes queimadores costumam levar.
A oportunidade surgiu num site de vendas e leilões online internacional, onde
adquiri uma galeria de fabrico inglês antiga adequada a Duplex Burner, Matador 20```,
Agni 20```, entre outros queimadores de
grande dimensão.
As medidas
são cerca de 6.7cm diâmetro interior, 10,2m para globo e 11.2cm diâmetro
exterior.
A galeria
no dia 19 de Março do corrente ano, assim que chegou pelo correio do Reino
Unido.
A galeria
já limpa e polida posta no Agni Brenner.
O topo
do espalhador Agni com os seus
carateres. Estas pecinhas são raras e perdem-se com muita facilidade.
O restauro
deste candeeiro tem sido aliciante e compensador, cada descoberta da peça
perfeita em falta acarreta persistência e disponibilidade monetária. Este candeeiro
tem sido o mais custoso a restaurar, mas por um lado foi isso que me atraiu
nele: devolver a identidade perdida.
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