Nas
anteriores publicações, muito entusiasticamente, publicou-se um candeeiro de
tecto da Bradley & Hubbard Manufacturing
Company com um excelente Rayo burner,
o que veio atrasar publicações pendentes, nomeadamente a questão do Movimento
Arte Nova em Portugal e dois exemplares de Kosmos
brenners 14”. Mas obstante este facto fica para o deleite do leitor este
magnífico exemplar e um pouco da história americana e portuguesa.
O
aparecimento em larga escala, através da publicidade da época, de candeeiros e
caloríferos a petróleo deve-se ao empreendedorismo da Colonial Oil Company, mais tarde Vacuum Oil Campany e por fim Mobil.
A companhia surge no mercado português em Lisboa e em 1905 lança vários
anúncios publicitários de venda de gasolina, candeeiros e caloríferos a
petróleo. O entusiasmo da Casa Real, nomeadamente do Infante Dom Afonso e seu
irmão o Rei Dom Carlos I,
pelos automóveis influenciou a nobreza e alta burguesia na aquisição desse tipo
de viaturas. A Colonial Oil Company
instala-se assim com os seus armazéns na Doca de Santo Amaro, em Lisboa.
Infante
Dom Afonso no seu automóvel numa corrida, a 10 de Julho de 1910, da Ponte Nova
à Cruz das Oliveiras. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.
Infante
Dom Afonso com o seu ajudante de campo, na mesma corrida em 1910. Fotografias da autoria de Joshua
Benoliel.
Infante
Dom Afonso em companhia de J. Lima (à direita) e o presidente do Real Automóvel Club (à esquerda)
assistindo à referida corrida. Fotógrafo não identificado.
Rei
Dom Carlos I à saída das instalações do Jornal O Século. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.
Rainha
Dona Amélia em local e data desconhecidos, entrando para um automóvel.
Fotografia de Alberto Carlos Lima.
Todas
estas ilustrações estão disponíveis no site
de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.
As
instalações na Doca de Santo Amaro ficavam precisamente onde hoje assenta na
margem do Rio Tejo a Ponte 25 de Abril, tendo sido demolidos para a sua
construção.
Na
tese de mestrado que desenvolvi em 2011 foquei precisamente um dos edifícios de
armazenamento dessa companhia. O edifício era um armazém construído para a firma
Fonseca & Araújo, segundo
projecto do notável arquitecto Miguel Ventura Terra. Este projecto, na obra
publicada pela Assembleia da República em 2009 sobre o arquitecto, a sua
localização é desconhecida. Então como descobri eu a sua exacta localização
para o trabalho que desenvolvi?
O
projeto para os armazéns foram publicados na revista A Construcção Moderna n-º 181, datada de 20 de Outubro de 1905. No
artigo cometem um erro e atribuem a sua localização no Poço do Bispo. No número
a seguir, datado de 1 de Novembro do mesmo ano, numa pequena nota intitulada Rectificação dizem que o edifício passou
pouco depois para a Colonial Oil Company
e que é situado na Doca de Santo Amaro.
Outro
factor importante foi a comparação das plantas publicadas em 1905 com a planta
geral, de 1904 a 1911, de Lisboa. Infelizmente não foram identificadas
fotografias do edifício em arquivo, mas dos tanques para o petróleo existem.
Projeto
publicado na revista A Construcção
Moderna do arquitecto Miguel Ventura Terra.
Planta
das instalações da Colonial Oil Company
na Doca de Santo Amaro. O edifício projectado pelo arquitecto Miguel Ventura
Terra situa-se no meio dos três edifícios a preto, virado para o rio. As
plantas são a união de duas, a 6C e 7C, datadas respectivamente de Maio e
Novembro de 1909.
As
plantas de Lisboa estão igualmente disponíveis no site de pesquisa da Câmara Municipal de Lisboa.
As
construções metálicas, nomeadamente os tanques para o petróleo ficaram a cargo
da famosa firma Cardoso, Dargent &
Companhia, como este anúncio publicitário, datado de 1905, publicado no Annuario dos Architectos desse mesmo ano
o afirma.
O
original encontra-se no site Hemeroteca Digital, neste link:
Sobre
o projecto de Miguel Ventura Terra, além de mais informação sobre outros
arquitectos, artistas e firmas mencionadas, encontrará na minha tese de
mestrado, realizada e defendida em Novembro de 2011 na Universidade Lusíada de
Lisboa, com o nome Álvaro Augusto Machado
e o Movimento Arte Nova em Portugal.
A Colonial Oil Company adquire assim um
papel de relevo na sociedade portuguesa. Tem as instalações à beira rio, na
Doca de Santo Amaro, mas instala-se principescamente no Palácio Foz, na Praça
dos Restauradores em Lisboa, e na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto. Faz-se
anunciar por anúncios publicitários nas conceituadas revistas portuguesas, na
altura em circulação.
Mappa de Portugal para o automobilismo datado de 1905, publicado pela Colonial Oil Company. O candeeiro do
lado direito, com abat-jour de vidro,
é sem dúvida um artigo produzido pela Bradley
& Hubbard Manufacturing Company, com o respectivo queimador Rayo.
Encontrará
a imagem original no seguinte link:
O
mesmo candeeiro de mesa noutro anúncio publicitário da Colonial Oil Company, igualmente datado de 1905.
O
anúncio foi publicado na revista Serões, n.º 1 datada de Julho de 1905, eis o
seguinte link:
O
mesmo modelo de candeeiro publicitado pela Standard
Oil Company nos Estados Unidos da América. O sobrescrito está datado de
1917, o que prova o sucesso comercial deste candeeiro, o qual ainda estava em
produção em 1940.
Imagem
extraída do seguinte link:
O
queimador Rayo torna-se num sucesso
comercial de vendas, a partir de 1894, neste tipo popular de candeeiros de
mesa. Nos Estados Unidos da América dizia-se que na compra de 56.7 litros (15 gallons) de petróleo da Standard Oil Company ofereciam o
candeeiro desse anúncio. Nos anúncios publicados em Portugal nesta altura
surgem variados tipos de candeeiro, uns mais populares e outros sofisticados,
mas havia também elegantes candeeiros para casas de campo e praia à venda no
Palácio Foz.
O
estabelecimento comercial no Palácio dos Marqueses da Foz não é por mero acaso,
visto se ter instalado a partir de 1901 a Embaixada dos Estados Unidos da América.
Anúncio
publicitário à Colonial Oil Company
numa das varandas do andar nobre do Palácio Foz. Fotografia da autoria de Joshua Benoliel.
Ilustração
retirada do site de pesquisa da
Câmara Municipal de Lisboa.
O
Palácio Foz vê assim o seu interior ocupado por variados estabelecimentos
comerciais, mas são os faustosos bailes e festas promovidos pelo então
embaixador americano Mister Charles Page
Bryan que causam furor em Lisboa.
Fotografia
de Charles Page Bryan, na capa da
revista Illustração Portugueza n.º
159, datada de 8 de Março de 1909.
Imagem
retirada do seguinte link:
O
palácio vê assim o andar nobre habitado por este ilustre americano, descendente
de famílias irlandesas e natural de Chicago. A sua estadia em Portugal, com sua
irmã, fez com que se apaixonasse pela nossa língua e cultura. Na reportagem de
1909 diz-se que tinha aprendido um pouco o português, assim como colecionava
prata antiga portuguesa e tinha o maior apreço pelos artistas nacionais. A sua
estadia no Palácio Foz contribuiu para a preservação do seu magnífico e
original interior, onde artistas nacionais e estrangeiros realizaram algumas
das suas criações.
Sala
de festas Louis XV, da autoria do
célebre entalhador Leandro Braga. No topo o retrato de Miss Bryan, irmã do embaixador.
Imagem
e texto retirados do seguinte link:
Corpo
diplomático da Embaixada dos Estados Unidos da América em 1909. No topo temos Mr. Martin, secretário particular, Mr. Lorillard, 1º secretário da legação
americana e Mr. Robbins, secretário
particular. Na imagem central temos o Ministro da América no seu gabinete de
trabalho e em baixo Mr. Louis Aymé,
cônsul dos Estados Unidos da América em Lisboa.
Imagem
e texto retirados do seguinte link:
Espero
ter contribuído para a história da evolução da iluminação em Portugal, através
do extraordinário desenvolvimento e inovação que Portugal teve nesta época.
Na
próxima publicação iremos abordar mais detalhadamente a grande firma americana Bradley & Hubbard Manufacturing Company.
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