No início
do ano de 2013 recebi uma newsletter,
de uma conhecida leiloeira de Lisboa, e nos lotes que iam a leilão vi um
candeeiro a petróleo opaline pelo
qual me deixei seduzir. O candeeiro em questão não saía da minha mente e decidi
ir vê-lo de perto.
O candeeiro
é realmente bonito, alto, fundo azul com conjuntos de flores pintadas de muito
bom gosto. As estilizações à volta são em fundo branco com realces a ouro, mas
infelizmente muito gasto. O queimador era um Kosmos 14”, com a chaminé correcta (marcada: J. d`Oliveira; L. S. Domingos Lisboa 14´´´), com a típica galeria
de 8,5cm de diâmetro exterior, mas sem globo ou abat-jour.
A base
opaline, o azul, os arranjos florais
extremamente bem pintados não saíam da minha cabeça, mas algo me fez dissuadir
da sua aquisição. No dia do leilão licitei duas vezes o candeeiro, mas desisti.
As comissões cobradas, o imposto e o preço que alcançou não valiam a pena. O estado
de desgaste da pintura em dourado retirou o encanto e a qualidade que o
exemplar tinha. Outro facto que não mencionei, foi a tinta azul ter sido quase
toda apagada à volta da rosca, devido ao polimento contínuo ao longo de
décadas. Neste tipo de peças é preciso sempre ter muito cuidado ao polir os
metais, de forma a não estragar qualquer tipo de pintura.
Nesse mesmo
dia decidi descer à cave e ver outros candeeiros retirados de leilões
anteriores. O meu olhar concentrou-se de imediato num curioso candeeiro, ao
gosto Arte Nova, aparentemente completo, que estava no meio de tantos outros. Fixei
o candeeiro e dias depois fui à leiloeira, para ser mais exacto no dia 5 de
Março de 2013.
O exemplar
estava intacto: reservatório sem quebras; peças em alabastro(!) em bom estado; queimador
a funcionar; montures metálicas (liga
de estanho e antimónio) intactas; chaminé invulgar e rara, mas com um cabelo no
topo, e um magnífico abat-jour de
vidro. O reservatório é só por si uma peça especial, em tom de verde água,
raiado de branco. O efeito deslumbrante e sinuoso das manchas brancas, como uma
neblina sedutora, denota sofisticação.
As montures metálicas estavam hediondamente
cobertas por purpurina, uma forma ingénua e ineficaz de dissimular metal
dourado. Este tipo de tinta em metais não resulta com o tempo, tornando-se baça
e estaladiça. O seu uso pode ser sublime, como no caso da porcelana, cuja
aplicação é mais difícil e encarecida que o ouro em pó.
De imediato
veio-me à ideia pintar de preto fosco as montures
metálicas, realçando assim todas as outras cores existentes no candeeiro:
amarelo do latão, verde e branco do reservatório. No processo de remoção da
tinta pôs-se a descoberto a base do reservatório, essa sim em latão polido, o
que veio a enfatizar ainda mais a pintura a preto.
O queimador
foi limpo e ao mesmo tempo identificou-se o seu fabricante: Hugo Schneider da cidade de Leipzig, já mencionado em anteriores
publicações. A chaminé foi cuidadosamente arrumada, visto estar danificada, e
constitui um raro exemplar de chaminés Kosmos
14”. A sua raridade prende-se com o facto de terem sido produzidas, segundo
alguns especialistas mundiais, pelo menos até à década de 10 do século passado.
O seu design invulgar, aparentemente
decorativo, tem como finalidade alongar e dar mais intensidade de luz à chama. Em
Portugal não se sabe, ainda, como se chamavam estas chaminés, mas na França e
Alemanha usavam-se os seguintes nomes: Sans
Rival ou Phenomen. Não só havia
este tipo de chaminé melhorada como outros modelos disponíveis na altura. O exemplar
que veio com o candeeiro tem as seguintes inscrições: F. P. Ferro; Olhão; 14´´´. Este estabelecimento comercial, conforme
dá a indicar pela inscrição, não se sabe ainda onde se situava, nem que género
era. A chaminé pode ser de fabrico nacional ou importada.
O candeeiro
em si parece ser de fabrico alemão ou austríaco, até agora não foi identificada
com segurança a sua proveniência.
Seguem
as ilustrações do candeeiro no início do seu restauro, o qual não foi dos mais difíceis
e dispendiosos que tenho feito.
Candeeiro
Arte Nova no dia da aquisição (duas perspectivas).
Base do
candeeiro ainda com a purpurina.
Pé metálico,
no qual está camuflada uma pedra (parece ser alabastro), e suas sinuosas linhas,
duas perspectivas.
O gosto
Arte Nova envolve estilizações clássicas, como no capitel coríntio.
Abat-jour e chaminé de vidro, duas
perspectivas. O abat-jour é em gomos,
com a mesma representação de um pássaro em ramagens floridas, o que constitui
um deleite para os olhos.
Reservatório
em vidro verde água, raiado de branco, cujo efeito é soberbo. O regulador está
devidamente marcado (ao centro estrela de 8 pontas da Hugo Schneider) e tem a
seguinte inscrição: * Kosmos Brenner *.
Na próxima
publicação continuarei o restauro deste candeeiro, com novas fotografias e
algumas notas sobre o movimento Arte Nova.
Olá
ResponderEliminarEstou com um problema sobre um candeeiro de teto arte nova mto lindo que me interessa mas não faço ideia do seu valor. Será que me pode ajudar?