Na
publicação de 25 de Maio do corrente ano, sobre a famosa Bradley & Hubbard Manufacturing Company, falou-se nos composite oil lamps. Estes candeeiros
americanos abundam numa variedade infinita de diferentes reservatórios, todos
em vidro moldado, com diferentes peças que são: ferro; latão; cobre; vidro opaline ou não; liga de estanho e
antimónio; entre muitos outros materiais.
A sua
produção é extensa, por várias manufacturas de vidro americanas, entre elas a
famosa Boston and Sandwich Glass Company,
fundada em 1826 e encerrada em 1888. Surgem no mercado em força por volta de
1880 até pelo menos 1900.
O
poder de mix and match das diferentes
peças foi aproveitado por várias companhias de produção de candeeiros. No
arquipélago dos Açores, por causa da escala das grandes companhias de navegação
entre o continente europeu e americano, este tipo de candeeiros surgiu no
interior doméstico das habitações, além de muitos outros com queimadores central draught opaline. No território
continental português a sua presença não é tão forte, em contrapartida abundam
em grande número os candeeiros opaline
de fabrico europeu. Até hoje nas diferentes leiloeiras, lojas de antiguidades,
velharias e feiras não consegui localizar um exemplar.
Na
casa dos meus bisavós havia três candeeiros deste tipo, mas como a
electricidade chegou cedo à Ilha de São Miguel, eles foram relegados para a
despensa debaixo da escada de serviço. Como a corrente eléctrica era fraca,
estando dias cortada por causa do mau tempo, recorria-se aos candeeiros de
vidro moldado, visto serem mais prácticos e menos pesados.
Estes
candeeiros permaneceram desde a década de 20 à década de 60 inutilizados, até
que a minha mãe teve a infeliz ideia de os electrificar e de comprar novos abat-jours, visto os originais terem-se
partido.
O meu
pai na sala de estar da casa dos meus avós, Ponta Delgada em 1976. O candeeiro
que se encontra na mesa de jogo é um composite
oil lamp, que ficou para a minha tia. A base é em latão e o reservatório é
em vidro moldado com estrelas e curvas. Entre a base e o reservatório, unido
por peças em latão, existe uma esfera em vidro opaline com amores-perfeitos pintados maviosamente à mão.
O
autor deste blog (à direita) com uma
amiga (à esquerda), a Xana, a brincarem em 1979. O candeeiro que ficou para nós
encontra-se ao lado do sofá, mas infelizmente partiu-se a armação para abat-jour, a qual foi substituída por
uma galeria para globo.
O
candeeiro depois levou um globo, até que em 2001 ou 2002, por causa do fio
eléctrico e de um dia de limpezas, minha mãe passou e o reservatório partiu-se,
assim como o globo. Fiquei devastado, porque foi precisamente este candeeiro
que deu início há minha paixão por este tipo de iluminação.
As
peças sobreviventes foram guardadas, até que no ano de 2012 decidi dar início à
sua recuperação.
As
peças a 19 de Dezembro de 2012.
O
queimador tinha sido irremediavelmente destruído pelo processo de
electrificação, era um Kosmos Brenner 14” produzido pela conhecida
fábrica alemã Brökelmann, Jäger und Busse GmbH & Co. As restantes
peças felizmente tinha sido poupadas.
Este
queimador não era usado originalmente nestes candeeiros, o que me surpreendeu
quando comecei a investigar sobre a sua história, mas sim os queimadores Queen Anne. Este facto confirmou-se
quando reparei melhor na abertura para a torcida no topo do reservatório. O
vidro tinha sido lascado por uma tenaz para poder levar um Kosmos 14”, o que foi um melhoramento viste este dar maior
incidência de luz que o original.
O
próximo passo foi encontrar um reservatório igual, o original tinha um padrão
em cruzes e no topo pontas de diamante, mas o que era essencial era a peça em
latão em baixo coincidir com a original para se poder encaixar. A sorte estava
quase do meu lado, quando num conhecido site
de leiloes e venda online surgiu um lote com três reservatórios em vidro
moldado.
Lote
dos três reservatórios em vidro moldado. Os dois reservatórios, em baixo e em
cima do lado esquerdo, eram precisamente os que necessitava para poder dar
início ao restauro. O reservatório mencionado em cima era o ideal, tinha um
ziguezague em vez de cruzes e a superfície lisa no topo, em vez de pontas de
diamante. As dimensões eram precisamente as mesmas que o original.
Licitei
o lote, tendo sido o único, e consegui trazer para Portugal estas peças antigas
dos Estados Unidos da América.
O
candeeiro com o reservatório substituto e os dois sobresselentes.
O
passo a seguir foi encontrar um queimador Kosmos
14” em bom estado e de época. Numa conhecida feira alentejana perguntei a
um dos meus vendedores preferidos se tinha este tipo de artigo, a resposta foi
positiva. Trouxe-me um saco com sete queimadores antigos, dos quais fiquei com
dois Kosmos 14”, um da Hugo Schneider e outro da Wild & Wessel, e o meu primeiro Agni brenner 20” igualmente da Wild & Wessel, mas incompleto e
danificado. Este último queimador serviu para completar outro da mesma gama,
que mais à frente se irá abordar noutra publicação de carácter especial. Os
restantes queimadores estavam irremediavelmente danificados.
O
queimador Kosmos 14” da Hugo Schneider depois de limpo.
Outro
passo importante foi cortar o topo do reservatório para poder encaixar a nova
rosca e queimador no candeeiro. A solução foi um esmerilador, em vez das
tenazes para cortar o vidro. Dirigi-me a uma conhecida vidreira em Lisboa e num
instante resolveram-me o problema. No mesmo dia comprei a rosca, noutra
conhecida e antiga casa comercial da mesma cidade, e guardei tudo para preparar
a massa com o gesso.
Topo
do reservatório desbastado.
A nova
rosca e o queimador Kosmos 14” da Wild & Wessel para demonstração.
Com a
ajuda do Nuno fizemos uma mistura de água, gesso e cola, para podermos afixar a
rosca no reservatório. Antigamente era usado só o gesso e água, mas com a cola
adquire uma melhor fixação.
O
passo seguinte foi recuperar a base em ferro, infelizmente não contém indicação
do seu fabricante, mas só com uma pesquisa nos antigos catálogos conseguirei,
ou não, localizar este modelo. Na internet não há muitos catálogos antigos
disponíveis, só mesmo numa deslocação aos Estados Unidos da América poderei
obter resultados vantajosos.
O
candeeiro com a base em ferro pintada em preto, como no original. A ferrugem já
se evidenciava por fora e por dentro da peça, necessitando urgentemente de tratamento.
A galeria para globo era a que ele tinha na década de oitenta até se ter
partido, mas mesmo assim não descansei enquanto não repus todas as peças para
lhe devolver a identidade perdida.
O
candeeiro aceso com o globo.
Na
mesma feira de velharias alentejana, desta vez noutro vendedor, localizei um
candeeiro em liga de estanho e antimónio (coberto novamente por camadas de
purpurina horrorosas), reservatório em vidro, chaminé e queimador Kosmos 14”, globo e finalmente um
suporte para abat-jour igual ao
original. O diâmetro exterior era precisamente o mesmo que o antigo, que à
muito se tinha partido. Andei três semanas para me decidir se adquiria o
candeeiro ou não, até que por fim o obtive. O candeeiro em si não me
entusiasmava, mas tinha todas aquelas peças sobresselentes por um preço
apetecível. No mesmo comprador, passado um ou dois meses, consegui um abat-jour antigo opaline, de boa qualidade e com o diâmetro necessário para encaixe.
O
candeeiro no mesmo dia em que o adquiri. O queimador é da famosa Gaudard, que ainda os fabrica na França.
As peças foram depois limpas e dispostas nos seus novos lugares, como mais à
frente se irá ver. Por isso aguardem as novas publicações.
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